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Nova fabricante de aviões brasileira, a Desaer quer ocupar nicho na aviação abandonado pela Embraer

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Nova fabricante de aviões brasileira, a Desaer quer ocupar nicho na aviação abandonado pela Embraer
Ilustração do bimotor ATL-100 da Desaer que terá capacidade para 19 passageiros (Foto: Divulgação ) — Foto: Epoca Negocios

A empresa já inicia trâmites para construir fábrica em Araxá (MG); o primeiro produto, o bimotor ATL-100, deve decolar em 2025

No começo dos anos 1970, a Embraer lançou um tipo de avião comercial que não existia em nenhum outro lugar do mundo. Esse produto era o EMB-110 Bandeirante, uma aeronave de pequeno porte com padrões avançados de linha aérea criada para atender aeroportos que não comportavam pousos e decolagens de jatos. Era o nascimento do conceito que hoje chamamos de aviação regional.

Porém, com o passar do tempo a Embraer deixou de produzir esse tipo de aeronave (outro exemplo foi o EMB-120 Brasilia) para alçar voos mais altos (e mais rentáveis) com aeronaves de maior capacidade, como as linhas de jatos regionais ERJ e os E-Jets de primeira e segunda geração. Com isso, o Bandeirante, descontinuado em 1991 (e o Brasília em 2001), nunca teve um sucessor direto e de origem nacional. Pelo menos não até agora.

O vácuo deixado pela Embraer nas categorias de entrada da aviação regional é justamente a área de interesse da Desenvolvimento Aeronáutico, a Desaer.

Com escritório no Incubaero, incubadora de startups de tecnologia em São José dos Campos (SP), a empresa quer ser uma referência no campo de aviões comerciais e utilitários de pequeno porte.

“Desde 2012 eu venho trabalhando em projetos de aviação regional de pequeno porte, mas as fabricantes aeronáuticas não estavam mais interessadas nessa categoria. Tanto que o Bandeirante nunca teve um sucessor nacional. Em 2016, eu saí da empresa onde trabalhava e, no ano seguinte, fundei a Desaer”, disse Evandro Fileno, CEO e um dos sócios-fundadores da Desaer, em entrevista à Época Negócios.

O primeiro produto nos planos da Desaer é o bimotor turboélice ATL-100 para 19 passageiros (ou 2.500 kg de carga), um avião da mesma categoria do Embraer Bandeirante, mas com tecnologias de última geração e design aprimorado. “Aqui no Brasil ainda existem muitos Bandeirantes em operação, inclusive com a Força Aérea Brasileira, mas eles estão próximos de serem aposentados. O ATL-100 é um projeto ideal para substituir o Bandeirante, além de ser mais versátil”, contou Fileno.

Segundo dados da startup, o ATL-100 poderá voar a velocidade máxima de 430 km/h (e cruzeiro de 380 km/h) e terá uma autonomia de 2.000 km (ou cerca de 570 km totalmente carregado). O modelo, que tem o primeiro voo programado para 2025, também já tem preço: US$ 5,5 milhões.

Para tirar o ATL-100 do papel e decolar, a Desaer busca um investimento de aproximadamente US$ 290 milhões. “Esse valor cobre os custos do projeto do ATL-100 e a construção da fábrica”, explicou Fileno, que em breve deve se mudar de São José dos Campos para a Araxá, no Triângulo Mineiro. A empresa pretende erguer sua fábrica nas imediações do Aeroporto Romeu Zema (nome em homenagem ao avô do atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema Neto).

Outro projeto da Desaer é o ATL-300, uma aeronave bimotor turboélice para 40 passageiros e configurações mais avançadas, como cabine pressurizada e trem de pouso retrátil. De acordo com Fileno, o investimento para avançar com o ATL-300 gira em torno de US$ 550 milhões e o primeiro voo do modelo é programado para meados de 2027.

“A Desaer trabalha hoje 100% com recursos próprios. Tudo que ganhei nos últimos 20 anos eu investi na empresa. Estou correndo atrás de investidores, mas aqui no Brasil por enquanto ninguém está interessado, nem órgãos públicos ou investidores privados. Por isso estamos procurando investidores estrangeiros. Já temos algumas conversas avançadas com investidores da Europa, Estados Unidos e do Oriente Médio. Logo devemos anunciar um aporte para iniciar a construção da fábrica em Araxá e contratar mais engenheiros”, contou o CEO.

Para o secretário de desenvolvimento econômico, inovação e turismo de Araxá, Juliano Cesar da Silva, a fábrica de aviões é o passaporte do município mineiro para o futuro. “A Desaer é super importante para o desenvolvimento da cidade. Mas cerca de 80% da mão de obra para a fábrica precisa ser qualificada e ainda não temos esse pessoal qualificado aqui no município. Por isso, estamos preparando convênios com as faculdades da região para qualificar a população para trabalhar na Desaer e outras empresas de tecnologia que chegarem aqui. Também vamos construir um centro tecnológico na cidade e a rodovia (BR-262) que dá acesso a Araxá será duplicada.”

“A Desaer é só a ponta do foguete. Com a fábrica instalada na cidade e a qualificação de profissionais, podemos atrair mais empresas de tecnologia para Araxá. Tudo tende a melhorar em todos os sentidos, esperamos um crescimento econômico excepional, aumento de PIB e IDH. No passado, isso tudo aconteceu em São José dos Campos, por conta da Embraer. Araxá está trabalhando para ser um novo polo aeronáutico no Brasil”, acrescentou Silva em contato com a reportagem da Época Negócios.

Mercado Promissor

Um dos objetivos da Desaer é oferecer opções de aeronaves que possam prestar serviços de transporte aéreo comercial em regiões isoladas no Brasil e outros países e em localidades onde a demanda de passageiros não é suficiente para lotar um avião a jato, como um Boeing 737 MAX da Gol ou mesmo um Embraer E190 da Azul.

“A ANAC tem mais de 1.000 aeródromos homologados, mas apenas cerca de 70 deles são atendidos atualmente pelas companhias aéreas justamente pela falta de um avião mais adequado. Um país grande como o Brasil tem um potencial enorme para a aviação regional e tem capacidade para absorver os nossos produtos. Hoje existem mais de 20 empresários no Brasil pedindo abertura de companhias aéreas regionais”, contou Fileno.

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