Mesmo que haja uma solução política rápida na Venezuela, imigrantes levarão cerca de 2 anos para voltar ao seu país, afirma responsável da ONU pela situação.
Até o fim deste ano, 1 milhão a mais de venezuelanos deve sair do país por causa da crise econômica e política.
A estimativa é de Eduardo Stein, representante da agência de refugiados da ONU, a Acnur, para os refugiados e imigrantes venezuelanos.
Eduardo Stein, representante da ONU para refugiados e imigrantes venezuelanos — Foto: Daniel Muñoz/AFP/Arquivo
Cerca de 4 milhões já abandonaram a Venezuela, de acordo com dados da entidade.
“Chegou-se ao número de 4 milhões há cerca de três semanas. A nossa projeção é que serão cerca de 5 milhões até o fim de 2019. Há uma média de 5.000 venezuelanos que partem diariamente”, diz Stein.
Pela estimativa da ONU, a Venezuela tinha 30 milhões de habitantes em 2015 e, hoje, tem 28,5 milhões.
Há oscilação do fluxo de acordo com mudanças da política da Venezuela ou de outros países. Quando a fronteira com o Brasil foi reaberta, houve um aumento, mas depois alguns dias, a média voltou a 5.000 por dia, segundo ele.
Mesmo que se chegue a uma solução política para a Venezuela, os cerca de 5 milhões que devem sair do país vão levar cerca de dois anos para voltar. Isso porque a velocidade da volta é menor que a da saída.
“Digo isso com base em movimentos semelhantes que já aconteceram em outras partes do mundo: para retornar, as pessoas querem garantias de estabilidade e respeito a direitos humanos, além de acesso a serviços básicos, empregos e renda”, afirma ele.
Brasil tem forma centralizada e sofisticada de receber, diz autoridade
Em agosto de 2018, brasileiros destruíram acampamentos de imigrantes venezuelanos na cidade de Pacaraima, em Roraima, por acreditarem que um comerciante tinha sido atacado pelos estrangeiros.
Imigrantes venezuelanos embarcam em avião com destino a São Paulo, em janeiro de 2019 — Foto: Operação Acolhida/Exército Brasileiro
Após esse incidente, a forma como o governo brasileiro passou a receber os refugiados mudou, e hoje é uma das mais sofisticadas, segundo Stein.
“Os venezuelanos são registrados, ganham atendimento de saúde, têm comida e abrigo. Depois, há programas para tirá-los de perto das fronteiras e levá-los a outras regiões. Há pesquisas para entender qual parte do país tem mais capacidade para receber”, afirmou.
Isso não mudou com o governo de Jair Bolsonaro, de acordo com o represente. Esses mecanismos acontecem de forma centralizada, coordenados pelo governo federal, afirma ele.
Os dados da ONU apontam que o Brasil tem o sexto maior contingente de venezuelanos fora de seu país. São cerca de 168 mil pessoas que vieram para cá.
— Foto: Guilherme Gomes/G1
Perguntado se o Brasil poderia fazer mais para atender as vítimas da crise do país vizinho, Stein afirmou que quem ocupa o cargo dele não pode fazer comentários sobre as politicas de cada país.
“Os governos dos países que recebem estão preocupados com as consequências da onda de venezuelanos. Sobre a capacidade brasileira para aumentar as opções para receber, nós não somos autorizados a nos envolver em aspectos políticos”, afirmou.
Países sul-americanos aceitam venezuelanos com documentos expirados
O Peru, o país que recebeu o segundo maior contingente, baixou uma regra que exige passaporte e visto dos venezuelanos que vão para lá. Stein afirma que o governo da Venezuela não tem mais emitido documentos, e que não há forma de consegui-los.
A norma, no entanto, não tem sido reforçada, de acordo com o Stein, que elogia a flexibilidade de países sul-americanos, que tem aceitado documentos com validade expirada.