O Ceará é o terceiro Estado do Nordeste onde mais índios tiveram acesso à Universidade, de acordo com dado do Censo da Educação Superior. Em Caucaia, exemplos de gerações que superam barreiras históricas #Educação metro@verdesmares

Aprendendo a música da pajé da comunidade, tocando instrumentos e fazendo artesanato. Aliado ao currículo do ensino convencional, é isso que os índios tapebas da Comunidade da Ponte em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, crescem aprendendo na Escola Indígena da Ponte, mantida pelo Governo do Estado.

E é isso que os motiva a fazer todo o caminho até o ingresso na universidade, como acontece com as irmãs Ivanilda Pereira da Silva e Ceciliana Pereira da Silva, 39, que tiveram acesso ao ensino superior e retornam à comunidade em que vivem o conhecimento adquirido, junto às tradições que sempre mantiveram.

Ivanilda já se formou em Pedagogia. Ela terminou o ensino médio aos 29 anos e foi trabalhar como merendeira na Escola Indígena da Ponte. Mas o sonho dela era mais alto. Com o salário de merendeira, ela pagou as mensalidades do curso de Pedagogia, se graduou e hoje é professora de ensino infantil na mesma instituição. Ceciliana é aluna do 4º semestre de Pedagogia no Centro de Formação Profissional Metropolitano (Ceprome) e também dá aula na escola da Ponte. Ela precisou passar por um choque de realidade para perceber o seu potencial enquanto indígena e o seu impacto para os mais jovens de sua comunidade.

As duas irmãs integram os dados da pesquisa Quero Bolsa, plataforma que ajuda alunos a conseguirem bolsas de estudo. A pesquisa revela que quase 90 mil indígenas entraram na universidade desde 2010, salto de 843%.

Com base no Censo da Educação Superior de 2017, último com dados sobre índios, em 10 anos, 1.392 pessoas de origem indígena ingressaram no ensino superior no Ceará, configurando o quinto Estado brasileiro com mais índios na universidade.

“Antes, eu trabalhava fazendo serviços gerais na escola e um dia fui humilhada por uma pessoa que falou que era só isso que eu sabia fazer, esse trabalho degradante. Aí caiu minha ficha que eu tinha capacidade de entrar na faculdade e ser professora da minha comunidade”, relata Ceciliana.

Espaço 

Liana, como gosta de ser chamada, é uma das indígenas que lutaram para estar em um espaço que por tanto tempo foi negado a essas comunidades. Mas, aos poucos, a realidade vai se transformando.

Nas palavras de Liana, o acesso do povo indígena na faculdade ainda é “uma experiência nova”. Para ela, a maior carência é de profissionais dentro das próprias comunidades. “Nós precisamos muito ter mais professores de onde vivemos. O mais importante é não deixar a nossa cultura morrer”, desabafa. Com sorriso, Ivanilda relata a luta para que as crianças e os adolescentes da comunidade tenham um futuro digno.

“Eu, como professora e índia, acho que é importante as crianças verem que na sua própria comunidade tem professores, e que eles podem alcançar isso também. Hoje, nós entramos na faculdade com o sentimento de poder repassar o conhecimento para eles”.

Embora a intenção seja esta, muitas vezes o povo indígena encontra obstáculos para ter acesso a uma educação digna. Hoje, segundo o Governo, 39 unidades estaduais espalhadas por 16 municípios cearenses são voltadas exclusivamente para o ensino indígena, mas nem sempre foi assim.

“Antigamente, nossas crianças iam à escola convencional e eram discriminadas. Índio não podia ir descalço, não podia ir sujo, com a roupa rasgada. Na escola indígena não tem isso, ele vai do jeito que a condição dele deixar ele ir”, conclui Ivanilda.

Fonte: O Povo Online

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