Vício em pornografia atinge adolescentes e causa prejuízos que vão da baixa autoestima à perpetração de violência sexual.
Não é nenhum segredo que a nossa geração é a primeira que tem à disposição qualquer conteúdo pornográfico imaginável em um aparelho que cabe no bolso. A pornografia está disponível o tempo todo a qualquer pessoa que tenha acesso à internet, não importa a idade. Um estudo recente comprovou, com estatísticas alarmantes, o tamanho do problema: 10% dos adolescentes britânicos entre 12 e 13 anos de idade se consideram dependentes de pornografia.
O estudo foi conduzido pela ONG britânica National Society for the Prevention of Cruelty to Children (NSPCC), que entrevistou em 2015 cerca de 700 adolescentes e descobriu que um em cada dez deles diz que já vê pornografia a ponto de se preocupar e sentir que não conseguiria parar. Outro dado alarmante é que 12% deles disseram já ter participado de uma filmagem sexualmente explícita.
Depressão e violência
Por que isso está acontecendo? “Os jovens estão recorrendo à internet para aprender sobre sexo e relacionamentos. Sabemos que eles frequentemente têm contato com pornografia, muitas vezes sem intenção, e eles estão nos dizendo de forma muito clara que isso tem um efeito prejudicial e preocupante para eles”, diz à BBC Esther Rantzen, fundadora da ChildLine – serviço da NSPCC que atende e aconselha crianças e adolescentes.
“As meninas, em particular, dizem que sentem que têm que se parecer com atrizes pornô e se comportar como elas para serem admiradas pelos meninos”, afirma Rantzen.
Peter Liver, diretor da ChildLine, relata: “Eles nos contam que assistir a pornografia está fazendo com que se sintam deprimidos, preocupados com a imagem do seu corpo e pressionados a se envolver em atos sexuais para os quais não estão preparados.”
Um menino contou à ChildLine que estava “sempre vendo pornografia, inclusive conteúdo bem agressivo”. Ele não achava que a pornografia o afetasse até que percebeu que começou a enxergar as meninas de um jeito diferente. “Isso me preocupou”, disse.
Uma menina reportou ter sido assediada aos doze anos por seu namorado, da mesma idade, viciado em pornografia. “Eu me senti suja, confusa, chocada. A pornografia não é só um vídeo de dez minutos – ela tem consequências”, disse ela.
Conscientização
A exposição online à pornografia está se tornando cada vez mais comum. Will Gardner, CEO da Childnet e diretor do UK Safer Internet Centre, diz: “Pode ser difícil para os pais enfrentar o fato de que os seus filhos podem ter contato com pornografia, mas a realidade é que a pornografia é fácil de ser encontrada online e as crianças estão sendo expostas a esse tipo de conteúdo cada vez mais cedo.”
A insensibilização é outra razão que tem desencadeado o vício em pornografia. O estudo descobriu que um de cada cinco adolescentes de 12 a 13 anos acha que ver pornografia é algo normal e é parte do dia-a-dia.
A pornografia tende a ser cada vez mais acessível. Então como lutar contra algo tão onipresente? Liver aponta que “se nós, como sociedade, tivermos vergonha de falar sobre esse assunto, estaremos decretando o fracasso dos milhares de jovens que estão sendo afetados”.
“Temos que conversar sobre sexo, amor, respeito e consentimento assim que sentirmos que eles estão prontos para isso, para garantir que tenham uma visão realista da diferença entre relacionamentos reais e o mundo fantasioso da pornografia”, diz Rantzen.
Por Carlos Kté Santos..
Com informações de BBC.