Mesmo longe do poder, o PSDB elege o maior número de prefeitos e passa a governar um em cada quatro brasileiros. Desafio, agora, é pacificar o partido para 2018
Perceptível desde o primeiro turno da disputa municipal, a ascensão tucana frente ao declínio petista se consolidou com a votação no domingo 30 e deu ao PSDB uma franca vantagem na corrida por 2018. O partido foi o que mais elegeu prefeitos no segundo turno e conquistou 14 das cidades disputadas. Já o PT, que tentava vencer em sete prefeituras, não elegeu nenhum candidato, resultado proporcional ao mar de lama de corrupção em que se afundou após a Operação Lava Jato. A partir de 2017, um em cada quatro brasileiros será governado por prefeitos do PSDB. Ao todo, a sigla venceu em 28 das 92 cidades do País com mais de 200 mil eleitores e somará 24% da população brasileira sob sua administração – um total de 36 milhões, a maior concentração dentre todos os partidos. O maior desafio, agora, é manter unificada a legenda para a disputa presidencial.
Com a retumbante vitória nas urnas, as principais lideranças tucanas saíram fortalecidas para daqui a dois anos. O senador Aécio Neves (MG) segue como um nome forte para a disputa. Além de ser o presidente nacional do partido, Aécio parte com um recall da eleição anterior de 51 milhões de votos. Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não bastasse ter conseguido eleger o seu afilhado político João Doria (PSDB) no primeiro turno em São Paulo, verá seus aliados administrarem quase todas as 20 maiores cidades do Estado. O chanceler José Serra, por sua vez, é um eterno candidato à Presidência, em que pese a acusação de ter recebido R$ 23 milhões por meio de caixa dois. Aproveitando o bom momento, outro importante quadro da sigla se insinua no páreo. Trata-se do governador de Goiás, Marconi Perillo. Já temos ótimos quadros como Aécio, Alckmin, Serra e até Tasso Jereissatti. Havendo prévias, vou avaliar me lançar também”, afirmou Perillo.
Nos bastidores, a corrida por 2018 já começou. Aécio e Serra estão empenhados em conter o avanço de Alckmin. O único consenso é pela realização de prévias para a escolha do candidato. Mesmo assim, há divergências quanto ao universo de eleitores. Os paulistas querem abrir para todos os filiados, enquanto os tucanos ligados a Aécio preferem limitar a votação a parlamentares e dirigentes.
De todo o modo, os louros eleitorais beneficiam a todos, independentemente de quem será o candidato ao Planalto daqui a dois anos. As principais conquistas do PSDB no segundo turno foram em Porto Alegre, Manaus e Belém. Nelson Marchezan Júnior foi o primeiro prefeito tucano eleito na história da capital gaúcha, cidade de forte tradição de esquerda. Até então atrás nas pesquisas, o afilhado político de Aécio ganhou fôlego na reta final do primeiro turno. Sua estratégia foi a adoção de um incisivo discurso em nome do reequilíbrio fiscal. O deputado federal se beneficiou da situação calamitosa hoje vivida pelo Rio Grande do Sul para atacar o candidato derrotado no segundo turno, Sebastião Melo, do mesmo partido que o governador Ivo Sartori (PMDB). Deu certo.
Já existe consenso em torno da realização de prévias para a escolha do
candidato ao Planalto. Mas há divergências quanto ao universo de eleitores
Triunfos de norte a sul
Em Belém, o atual prefeito tucano Zenaldo Coutinho conseguiu vencer índices de pelo menos 40% de rejeição identificadas em pesquisas locais e, numa disputa acirrada, ganhou do adversário. O ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que por duas vezes administrou a prefeitura da capital paraense pelo Partido dos Trabalhadores, teve 48% dos votos contra 52% do tucano. Em Manaus, o ex-senador Arthur Virgílio Neto também conseguiu a reeleição e com 56% dos votos derrotou Marcelo Ramos (PR).
Em seu berço político, o ABCD paulista, o Partido dos Trabalhadores não conseguiu emplacar nenhum prefeito. Deu lugar, então, aos aliados de Alckmin com a promessa de que uma maior interlocução com a administração estadual abriria as portas para investimentos. Os tucanos Paulo Serra, Orlando Morando e José Auricchio Jr. assumirão, respectivamente, os municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Já Diadema seguirá com o atual prefeito, Lauro Michels (PV), também aliado do governador do Estado. Outro exemplo da influência bem-sucedida do governador paulista foi em Ribeirão Preto, onde o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB) foi eleito no segundo turno contra Ricardo Silva (PDT).
Com a nova proporção populacional sob sua gestão, o PSDB também administrará as maiores receitas municipais do País e somará um orçamento de R$ 158,5 bilhões anuais. Como, geralmente, o desempenho eleitoral das siglas na corrida municipal está diretamente ligado aos resultados da disputa presidencial que ocorre dois anos depois, a avassaladora ascensão tucana prenuncia bons auspícios para 2018.