O novo PSDB promete não ceder mais espaço em suas fileiras para políticos corruptos e já avisou ao deputado Aécio Neves: ou desfilia-se ou será expulso do partido

No filme Tropa de Elite, o capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, diz a um dos policiais que destoava da equipe, “pede pra sair”, dando a entender que ele seria afastado do grupo caso saísse da linha. Com o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) acontece a mesma coisa.

Envolvido em vários atos de corrupção e recentemente virando réu em uma ação na qual é investigado por ter recebido R$ 2 milhões em propinas do grupo JBS, Aécio recebeu um ultimato da nova direção do PSDB, agora presidido pelo ex-ministro Bruno Araújo, homem de confiança do governador de São Paulo, João Doria: ou Aécio pede licença e se afasta voluntariamente, ou será expulso.

A atual cúpula tucana quer excluir do partido políticos como Aécio, Beto Richa (ex-governador do Paraná) e Marconi Perillo (ex-governador de Goiás), todos denunciados por corrupção, sob o argumento da não contaminação da agremiação, que deseja disputar a Presidência da República em 2022 livre de companhias indesejadas. Na quinta-feira 11, o diretório tucano de São Bernardo deu um passo além: pediu formalmente a expulsão de Aécio.

Propina de R$ 2 milhões

O político mineiro começou a cair em desgraça no PSDB em abril do ano passado, quando era senador por Minas Gerais. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou uma denúncia contra ele, feita pela Procuradoria-Geral da República, com base nas investigações da Polícia Federal. Durante a Operação Patmos, deflagrada em 18 de maio de 2017, na esteira das conversas pouco republicanas entre o empresário Joesley Batista e o então presidente Michel Temer, a PF prendeu o primo do senador, Frederico Pacheco de Medeiros, com uma mala contendo R$ 500 mil recebida das mãos do delator Ricardo Saud, da JBS. A dinheirama seria destinada ao tucano. Era a primeira remessa dos R$ 2 milhões em propinas que o senador receberia da JBS.

Na mesma operação, a PF gravou uma conversa de Aécio com Joesley Batista, na qual o tucano combinava o recebimento do dinheiro. Aécio indicou o primo para pegar a encomenda. “Tem que ser um que a gente mata ele (sic) antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu”, disse o tucano. O “cara seu” era Saud. Além de Fred e Aécio, são acusados de corrupção na ação sua irmã, Andréa Neves (que também pediu dinheiro a Joesley), e Mandherson Lima, assessor do então senador Zezé Perrella.

“Ou eu ou Aécio Neves” Bruno Covas, prefeito de São Paulo ao defender expulsão de deputado mineiro do PSDB (Crédito:RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS)

Com a denúncia, Aécio percebeu que não se reelegeria senador e disputou as eleições de 2018 como candidato a deputado federal, amargando um grande desgaste no partido, onde foi a grande estrela até 2014, quando chegou a ser o candidato a presidente. Desmoralizado, ele queria, a todo custo, manter o foro privilegiado, já que no STF teria mais chances de ficar impune. Não adiantou: o STF considerou que o crime cometido por Aécio aconteceu quando ele estava investido no mandato de senador e que agora, na condição de deputado, teria perdido o foro especial. O caso foi enviado à Justiça paulista, onde fica a sede da JBS. No último dia 5, o juiz federal João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal, aceitou a denúncia e o tornou réu por corrupção e tentativa de obstrução da Justiça.

O ideal para a nova direção tucana é que Aécio peça para sair do PSDB já, para evitar a traumática intervenção da Comissão de Ética que, certamente, determinará a expulsão. As pressões para apear Aécio do partido aumentam a cada dia. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, sentenciou na quarta-feira 10: “ou eu ou Aécio”, referindo-se à necessidade do deputado deixar da legenda. Foi o que fez o ex-governador Eduardo Azeredo, preso pelo mensalão mineiro: ele pediu desfiliação antes de ser expulso.

Nova roupagem

Os tempos mudaram no PSDB, desde que João Doria elegeu-se governador de São Paulo no ano passado e tornou-se o principal líder do partido. A primeira providência foi substituir o então presidente nacional, o ex-governador Geraldo Alckmin, que também enfrenta problemas judiciais por causa de dinheiro recebido do departamento de propina da Odebrecht. Para o seu lugar, Doria emplacou Bruno Araújo, eleito com a missão de reformular o PSDB, torná-lo comprometido com as mudanças da sociedade e desprovido do viés socialista que alguns grupos ainda ecoam dentro da organização. Araujo e Doria acalentam a vontade de que os tucanos assumam políticas liberais na economia. Para isso, contam com a adesão de políticos da centro-direita comprometidos com a lisura em suas condutas éticas.

Por revista Istoé….

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