Senadores investigados pela Lava Jato pediram que a polícia legislativa fizesse varredura em seus gabinetes para eliminar escutas, mas a Justiça considerou a ação criminosa
A Polícia Federal desenvolveu na última sexta-feira 21 uma polêmica operação para prender quatro agentes de segurança do Senado acusados de obstruírem a Justiça e de protegerem os senadores Fernando Collor de Mello (PTC-AL) e Gleisi Hoffman (PT-PR), além dos ex-senadores José Sarney (PMDB-AP) e Edison Lobão (PMD-MA). Os agentes da polícia legislativa fizeram varreduras no Senado para detectar grampos de escutas que afetavam os senadores e a Justiça de Brasilia apura a ilegalidade dessa ação dos policiais. Todos os senadores estão envolvidos em irregularidades investigadas pela Operação Lava Jato. O Senado acha que a PF agride sua autonomia.
Senadores blindados
Está prevista no regimento interno do Senado Federal a varredura de escutas ambientais como atribuição da Polícia Legislativa. Porém, o parágrafo terceiro do documento é claro: a ação só é autorizada com o objetivo de detectar grampos ilegais. É inadmissível, portanto, usar a estrutura daquele poder público para blindar investigados de operações policiais em curso, como a Lava Jato. Por essa falta grave, quatro agentes de segurança da Casa acabaram presos por força de mandato temporário.
Um deles é homem de confiança do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL). Pedro Ricardo Carvalho, que é diretor da Polícia do Senado, foi preso juntamente com Geraldo Cesar de Deus Oliveira, Everton Taborda e Antonio Tavares. A Polícia Federal informou ainda que a Justiça Federal suspendeu os policiais legislativos envolvidos do exercício da função pública.
Se na mitologia Metis era o nome de uma deusa conhecida pelas características de prudência e proteção, no Senado, a operação homônima da Polícia Federal visava desarticular uma organização que tentava atrapalhar os serviços dos investigadores da Lava Jato. O grupo teria usado o aparelho da instituição para fins pessoais em seis imóveis ligados aos senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), além dos ex-senadores José Sarney (PMDB-MA) e Edison Lobão (PMDB-MA).
A 10º Vara Federal do Distrito Federal autorizou o cumprimento de nove mandados judiciais. Todos em Brasília. Quatro foram de prisão temporária e cinco de busca e apreensão. Destes, um teve como alvo as dependências da Polícia do Senado.
Os policiais coletaram provas de que o grupo, liderado pelo Diretor da Polícia do Senado, tinha a finalidade de criar embaraços às ações investigativas da Polícia Federal em face de Senadores e ex-Senadores, utilizando-se de equipamentos de inteligência. Pedro Ricardo era apenas um técnico legislativo quando foi alçado ao posto de diretor da Polícia Legislativa durante a gestão de José Sarney.
Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress; Carlos Moura/CB/D.A Press
Matéria publicada pela Revista Isto É..