Legenda: O Laboratório Experimental de Abelhas Sem Ferrão trabalha hoje com 16 colmeias de sete espécies comuns da Caatinga Foto: Lorena Tavares

Urca cria laboratório para estudar espécies de abelhas nativas

De forma pioneira, a Universidade Regional do Cariri (Urca) criou, no campus de Missão Velha, o Laboratório Experimental de Abelhas Sem ferrão (Leasf), unidade para pesquisa sobre abelhas nativas. Sete espécies estão sendo estudadas e servirão também para implementar a educação ambiental a partir do contato de estudantes dos ensinos básico e superior, que poderão vivenciar novas práticas de meliponicultura.

Cupira, Jandaíra, Moça-branca, Marmelada, Canudo, Cupira, Jataí. Apesar de comuns no bioma Caatinga, essas abelhas enfrentam desafios como a escassez de florada, devido às chuvas irregulares, assim como as queimadas e o uso de agrotóxicos. Dentro do laboratório, foi criado o projeto Biologia de Abelhas Polinizadoras (Bioapi), apontando como são importantes para o equilíbrio ambiental. “As abelhas sem ferrão são nativas, fazem parte dos ecossistemas da nossa região, principalmente a Caatinga. Por isso, criamos o projeto pioneiro direcionado a abelhas sem ferrão”, detalha a professora Goretti Alencar, do curso de Ciências Biológicas da Urca. O principal objetivo, além da pesquisa, é instrumentar a educação ambiental. “Queremos que os estudantes possam manusear, conhecer como funciona a reprodução, adaptação, polinização e produção de mel”, detalha.

Em suas pesquisas, o laboratório aponta os benefícios das abelhas nativas. “O pensamento é mostrar o uso medicinal, já bem usado no senso comum, e vamos atrelar ao conhecimento científico”, explica Alencar. Hoje, os pesquisadores trabalham com 16 colmeias, mas vão adquirir novos grupos.

Adaptação

A chegada das abelhas ao campus não mudou a rotina, apesar de causar agitação entre os insetos, por causa do reconhecimento do local. De fácil adaptação e manuseio, as espécies são consideradas dóceis. “Pode criar em casa. O nosso objetivo é o estudo, o crescimento. Como não atacam, o projeto quer justamente a aproximação, explicar o melhor manuseio, uma vez que queremos trabalhar com crianças”, antecipa Goretti.

Estudante de biologia e integrante do laboratório, Janaisa Sousa ressalta que as abelhas nativas são importantes para o equilíbrio ambiental. “Por sua atividade de polinização, 80% do que vai para a nossa mesa têm participação dela, ou seja, suas atividades garantem a subsistência de todos nós”, reforça. Diante disso, o desafio é conter o desaparecimento das espécies, desafiadas pelas mudanças climáticas e ações humanas.

Expansão

Em 2008, o projeto “Educação Ambiental na Floresta Nacional do Araripe: uma experiência a compartilhar”, que trabalhou a utilização racional do mel das abelhas nativas em comunidades da Chapada, incentivou o surgimento de meliponiculturores. Francisco Batista, 37, do sítio Zabelê, em Nova Olinda, foi um deles. A princípio, o mel era para o consumo da família, especialmente para produção de xarope. Há seis anos, a atividade voltou a ser reforçada com a capacitação de 13 produtores.

Como complementação da renda familiar, o meliponário chega a produzir 40 litros de mel por ano, vendido na comunidade e em feiras agroecológicas. “A gente aprendeu a tirar da própria colmeia que a gente já tem, e evitou tirar da floresta. Não pega mais o enxame da natureza”, ressalta.

Reconhecendo esta atividade em Nova Olinda, mas também em Crato e Santana do Cariri, o laboratório da Urca projeta novas atividades. “Apesar de as abelhas com ferrão terem produção anual mais elevada em quantidade, o potencial medicinal das nativas é maior e isso aumenta seu custo comercial. Enquanto o mel da italiana custa entre R$ 25 o quilo, da nativa varia de R$ 210 a R$ 220. Uma diferença relevante”, aponta Janaisa. Por isso, a universidade pode se aproximar destes meliponicultores. “Quem sabe, criamos um projeto juntos, até adquirir novas colmeias”, antecipa a professora Goretti.

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