Conselheiro disse que não cedeu quando não tinha nada, quanto mais agora, com partidos e um cargo vitalício
Estão demarcados os espaços para a disputa estadual de 2018 no Ceará. O conselheiro Domingos Filho foi afastado do bloco governista. Foi traumático o rompimento. Primeiro ele foi comunicado da posição do governador Camilo Santana (PT) de fechamento de questão da candidatura de José Albuquerque para a Presidência da Assembleia por Ciro Gomes.
Depois, foi o próprio Camilo quem o fez, tanto para ele quanto para o seu colega conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Francisco Aguiar, pai do deputado Sérgio Aguiar, adversário de Albuquerque. Camilo foi explícito: ou apoiam a candidatura de Albuquerque ou estão contra o Governo.
O conselheiro Domingos Filho foi para o TCM, em 2015, disposto a passar uma temporada suficiente ao restabelecimento de suas forças, nocauteadas na disputa que travou para ser o candidato a governador, na sucessão de Cid Gomes (PDT), em 2014, quando Camilo Santana foi o escolhido.
Não se dando por vencido, estruturava, desde lá, uma base como apêndice do grupo liderado por Cid, incomodando, apesar da sinalização de não estar fazendo concorrência, mas complementação do esquema político. Hoje ele tem o controle de dois partidos, o PMB e o PSD, comandados pela mulher, prefeita de Tauá, e o filho deputado federal.
O incômodo da ação de Domingos se ampliou na reunião de candidatos para a disputa municipal de outubro passado e as negociações para filiação de deputados aos dois novos partidos. Alguns condicionamentos para se integrar à coligação que sustentou a postulação de Roberto Cláudio (PDT) elevaram o grau de irritação.
Áspera
A defesa intransigente da candidatura de Sérgio Aguiar foi a gota d’água que faltava para anteciparem o desfecho muito antes já previsto. Domingos, desde o momento que não aceitou renunciar com Cid Gomes, para facilitar o processo de escolha do candidato a governador, o seu objeto de perseguição naquele momento, deixou de ser o aliado confiável, mas, mesmo assim ganhou o cargo de conselheiro.
Domingos e José Albuquerque são além de adversários desde a disputa sobre qual dos dois seria escolhido para ser o candidato à sucessão de Cid Gomes. Eles se sentem prejudicados um pelo outro, além da áspera discussão que protagonizaram quando da proposta de renúncia rejeitada por Domingos.
Na política não existe o impossível, mas difícil pensar Domingos candidato a governador ou senador, em 2018, numa chapa liderada por Ciro ou Cid Gomes. Com os elementos de avaliação de hoje, não é insano quem admite estar o conselheiro próximo de ser um instrumento da oposição cearense, carente de nomes e de estrategistas, para confrontar o sistema governante.
Ele está ferido, também pelas afirmações do deputado Ivo Gomes, segundo as quais, mesmo sem nominá-lo, nem a Francisco Aguiar, presidente da Corte, eles estariam facilitando para prefeitos “picaretas” e pressionando os bons gestores, em troca de apoio de deputados à candidatura derrotada de Sérgio Aguiar.
Derrotados
“Quando não tinha mandato, não tinha partido, não tinha cargo vitalício não cedi, não era agora que cederia”, nos disse Domingos, depois de ser eleito presidente do TCM e antes da derrota de Sérgio na Assembleia, na última quinta-feira. Experimentado, sabe ele que será hostilizado. A escolha do deputado Audic Mota, seu ex-aliado e hoje o mais ferrenho adversário em Tauá, patrono do candidato a prefeito que derrotou Patrícia Aguiar, para ser o primeiro secretário da Mesa Diretora da Assembleia, mais que a exoneração de afilhados seus no Governo, é o exemplo mais forte do enfrentamento a ser experimentado.
O deputado José Albuquerque (PDT) tem a garantia de poder ostentar, ao fim desta Legislatura, o recorde de ter sido, nas últimas décadas, o mais longevo presidente da Assembleia Legislativa do Estado, por longos seis anos ininterruptos. Ele tem méritos na conquista, mas afora a sua vitória, há perdedores que não são apenas o deputado Sérgio Aguiar (PDT), o derrotado por Albuquerque, e os demais integrantes da chapa de oposição.
A democracia, por mais legítimo tenha sido o processo de votação, foi ferida. A exposição negativa do Tribunal de Contas dos Municípios, e os compromissos assumidos pelo governador Camilo com os deputados que capitularam no curso do processo, incluem-se no rol de vencidos.
E some-se, a tudo, o mercado persa nascido nas últimas horas da disputa por votos. A democracia é sustentada, também, pela respeitabilidade do Legislativo. Precisar de interferência externa para solucionar os seus problemas internos, como o da definição dos seus dirigentes, demonstra lhe faltar independência, um dos pontos mais importantes para merecer o respeito de todos.
A interferência, aberta ou camuflada de conselheiros do TCM, impedidos legalmente de fazerem política, em assunto interno do Legislativo, além de indevida, denegri a imagem de todos os envolvidos. Por fim, apesar de todo interesse em manter o Legislativo trabalhando harmoniosamente com o Executivo, não deveria o governador tratar da questão da Mesa do Legislativo como o fez.
Compilada do jornal Diário do Nordeste…