Foto: Ricardo Stuckert/PR

Resposta petulante de Maduro às “preocupações” de Lula com a democracia na Venezuela mostram os riscos de apoiar ditadores

Nesta terça-feira, 23, Nicolás Maduro recomendou que o petista tomasse um chá de camomila contra o nervosismo e endossou a teoria bolsonarista de que as urnas brasileiras não são auditáveis, lançando uma dúvida sobre a legitimidade das eleições brasileiras.

Foi a resposta petulante do criminoso de Caracas ao “susto” de Lula com sua afirmação de que um banho de sangue pode ocorrer na Venezuela caso a oposição vença a disputa presidencial do próximo domingo.

Tarde demais

A palavra “susto” foi escrita entre aspas porque o presidente brasileiro deveria ter externado esse sentimento há muito tempo. 

Há causas de sobra, que não se limitam à sabotagem das candidaturas de oposição pelo governo de Maduro. 

O lulismo jamais se mostrou alarmado com o fato de 8 milhões de venezuelanos terem deixado o país, fugindo da fome, do desrespeito aos direitos humanos e do crime organizado (que tem fortes ligações com o poder político). 

Tampouco denunciou a prisão e a tortura sistemática de adversários do regime bolivariano.  

A inquietação demonstrada a esta altura vem tarde e deixa a sensação de dizer respeito, no fundo, no fundo, aos efeitos de um golpe eleitoral na Venezuela sobre a imagem de estadista que o próprio Lula se esforça em projetar. 

O único interesse dos ditadores

As pesquisas não controladas pelo governo indicam que Maduro está muito atrás nas intenções de voto. 

O problema é que regimes autocráticos, depois que começam a prender, torturar e assassinar cidadãos, têm um único interesse: evitar que seus representantes sejam punidos por seus crimes. Os custos de deixar o poder são grandes demais. 

É por isso que tentações autoritárias precisam ser denunciadas assim que se anunciam. É por isso que palavras mansas, estratégias de apaziguamento e apelos à razão não fazem sentido nesses casos. 

Sócios do golpe

Lula e Celso Amorim seriam tolos se ignorassem essas obviedades. Eles não são tolos. Sabem que o mundo funciona dessa maneira, o que os transforma em algo pior: cínicos, que esperam colher benefícios das alianças com carniceiros.

Desta vez, no entanto, há mais chances de colher um prejuízo.

Se Maduro se recusar a aceitar uma derrota, não haverá reprimenda que baste por parte do Itamaraty. A complacência demonstrada até agora transformará o lulismo em sócio do golpe.

Será bem feito em dobro para Lula. A vacuidade e a perversidade de sua política externa terão sido desnudadas para sempre. 

Mas será também uma tragédia para os venezuelanos e para a democracia. Melhor torcer pelo improvável.

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