Mais de 450 mil visitantes, entre os quais 45 mil estudantes, de 950 escolas, participaram da programação ao longo de 10 dias. A 13ª edição encerrou movimentando R$ 9,6 milhões em vendas, o dobro do ano anterior

Maitê Aragão tem apenas um ano e cinco meses, ainda não sabe ler, mas está sempre de olhos atentos para os textos visuais que o mundo a apresenta. Quando a Bienal de 2017 aconteceu, ela sequer tinha nascido, mas nesta edição, encerrada ontem (25), a pequena está entre os cerca de 450 mil visitantes, segundo a Secretaria da Cultura do Ceará. Levada pelo pai, o advogado Daniel Aragão, a criança é semente de um público que, aliás, é prioritário para a organização do evento.

“Estou levando para ela uns livros de pintura e também alguns sobre cultura negra, a exemplo deste sobre personalidades e personagens e este outro sobre a religião africana do Brasil”, apresentou o pai de Maitê, destacando a importância de trabalhar a diversidade desde a infância.

O secretário de Cultura do Estado, Fabiano Piúba, identifica a Bienal como um espaço democrático e destaca a maior participação de crianças e jovens como um dos ganhos da edição deste ano. Mais de 950 escolas passaram pelo Centro de Eventos do Ceará, e o salto do número de estudantes, de 34 mil, em 2017, para mais de 45 mil (também até o penúltimo dia do evento), em 2019, confirma esse movimento.

“Além de uma grande feira de livro, de fortalecimento do mercado editorial, esse é, sobretudo, um ambiente de formação de leitores. É muito importante dar atenção a esse público da infância e da juventude”.

Uma das responsáveis pela curadoria, a escritora Ana Miranda converge para esta opinião ao fazer a sua avaliação. “O grande aspecto positivo foi o trabalho de marketing na logística da participação das escolas. A aproximação das crianças e jovens, a celebração em torno do livro e a inscrição de Fortaleza e do Ceará no circuito nacional e internacional de realização de um importante evento cultural circunscreve-nos no circuito de cultura, inteligência e literatura”, aponta.

Estudantes

O adolescente Pedro Crisóstomo, 12 anos, de Redenção, veio pela primeira vez à Bienal com uma turma de 26 alunos da Escola Municipal Terto Venâncio. O apreço pela literatura se reflete na sacola cheia de livros juvenis que, a partir de agora, passarão a compor sua estante. “Gosto muito de ler. Participar desse evento, com palestras e apresentações, foi uma ótima oportunidade para meu conhecimento”, diz.

Da Escola Estadual Maria Dolores Alcântara e Silva, em Horizonte, um grupo de 43 alunos também compartilhou experiências. Diogo Oliveira, Tallyta Rodrigues, Stefany Vieira e Paulo Henrique, na faixa etária de 15 a 16 anos, identificaram no eixo Literatura Juventude Periferia um espaço acolhedor. “Aqui, a gente encontrou de tudo um pouco, até jogos. Literatura vai além dos livros”, acreditam.

A rede particular de ensino também marcou presença. De Maracanaú, Monick Fontenele, do Colégio 12 de outubro, foi à Bienal com um objetivo específico: buscar obras clássicas, porém, se deparou com um universo mais amplo. “São apresentações, palestras. É um espaço que incentiva. A gente vive numa sociedade muito ligada à tecnologia, e a gente precisa ler cada vez mais para adquirir conhecimento e se tornar um ser pensante na vida”, reflete.

Autores

Em relação à participação dos escritores neste ano, o evento conseguiu reunir 400 convidados em mais de 15 espaços temáticos, além de permitir o lançamento de 112 livros. Uma destas obras foi “O Olho de Lilith”, da cearense Mikaelly Andrade.

“Este ano foi a minha primeira participação. Pensar a leitura, pensar modos de resistir e continuar investindo na educação e na cultura, abraçar pessoas queridas, conversar com os jovens, ouvi-los. Tudo isso é de um enriquecimento muito grande”, avalia a autora de 29 anos.

O que poderia melhorar, na avaliação de Mikaelly, é a acessibilidade aos livros para os jovens periféricos. “É muito triste e frustrante saber que nem todos terão acesso aos livros”. O escritor Mailson Furtado, que lançou “à cidade”, seu primeiro livro premiado com um Jabuti, na Bienal de 2017, destaca somente pontos positivos nesta edição, mas chama atenção para um fator que vai além do interno. “Todas as questões que podem existir de negativas estão ligadas à marginalização imposta por essa nova gestão que governa o País e tenta marginalizar artistas e educadores”, acredita.

bienal
Foto: Kid Jr

Avaliação

O secretário Fabiano Piúba acrescenta outro ponto. “A Bienal precisa aprimorar-se no que diz respeito aos expositores. A gente tenta há um bom tempo trazer as editoras grandes, mas elas continuam restritas ao eixo Rio-São Paulo por questões financeiras”.

Para Piúba, aliás, “as Bienais do eixo Rio-São Paulo têm que aprender com a do Ceará. Elas têm uma predominância forte na comercialização do livro e o acesso não é gratuito. Aqui investimos, sobretudo, num ambiente para reflexão e formação leitora, com ações como o Terreiro em Sonho, que traz os mestres da cultura; e a Bienal fora da Bienal, que leva os autores para fora do Centro de Eventos”, finaliza.

Acompanhado por Piúba, o governador do Estado, Camilo Santana, circulou pelos espaços da Bienal na noite do último sábado (24). O gestor esteve na Praça do Cordel, nos stands dos Povos Indígenas e no Comitê Gestor de Expressões Culturais Afro-brasileiras, dentre outros locais. Camilo se revelou surpreso com a quantidade de pessoas prestigiando o evento e frisou que, em tempos de recessão, a cultura cumpre seu papel como cadeia de “economia criativa”.

Fonte: Diário do Nordeste

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