Pesquisa está em fase adiantada e produto poderá estar disponível em 24 meses
Adoro entrevistar cientistas. Em seus laboratórios, longe dos holofotes, dedicam-se por anos a fio para descobrir a fórmula de uma vacina, a forma de combater um micro-organismo letal. Por isso tenho o maior prazer em divulgar esse tipo de trabalho e mostrar como são fundamentais para o país.
É o caso de Rosane Silva, professora associada da UFRJ e chefe do Laboratório de Metabolismo Macromolecular Firmino Torres de Castro, que pertence à universidade. A equipe que coordena está numa fase avançada para a criação de um kit único para detectar vírus, bactérias e fungos.
O que é isso: atualmente, para se descobrir o que provoca uma infecção, os kits disponíveis no mercado são específicos para um único micro-organismo. “Esse kit terá inúmeras vantagens”, ela explica. “Em primeiro lugar, o mais importante é sua abrangência. Ele identifica a presença de diferentes patógenos ao mesmo tempo. Como é possível identificar que vírus ou bactérias estão presentes, ganha-se um tempo precioso. Também consegue detectar se esses patógenos já desenvolveram alguma resistência à medicação. Além disso, só é preciso coletar uma fração de sangue do paciente, o equivalente a um décimo do que normalmente é preciso”, completa.
Em determinados casos, é bastante complexo retirar amostras para uma análise, daí a relevância de o kit exigir uma quantidade mínima de material. Por exemplo, diz a professora, “em casos de infeções em próteses ortopédicas, ou quando é necessário fazer uma punção para coletar o líquor da espinha dorsal”. O produto que está sendo desenvolvido pela cientista vai atender a pacientes que estão em situação delicada e o médico terá os resultados em 24 a 72 horas, podendo iniciar a terapêutica o quanto antes – o que pode diminuir o tempo de internação e o risco das complicações de uma hospitalização por um longo período.
Por estar sendo desenvolvido numa universidade brasileira, o kit atende com precisão às nossas necessidades: a equipe levou em conta o espectro de patógenos mais comuns no país. A iniciativa não se resume à parte laboratorial: o tratamento da amostra e o resultado demandaram a criação de um método computacional. “Teremos um banco de dados disponível para a comunidade científica e médica”, complementa Rosane Silva. O projeto é financiado pela Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro) e também recebeu financiamento da Capes e do CNPq. Como ainda precisará passar por diversas validações e pela aprovação da Anvisa, a expectativa é de que esteja disponível em dois anos.
Fonte: G1 RJ