Os Centros de Atendimento Psicossocial (Caps) são unidades alternativas ao modelo manicomial e, ainda que guardem pontos críticos, são equipamentos estruturantes da rede de atendimento, ofertando inclusive terapias integrativas
Cláudias, Ricardos, Denises, Suzanas, Rogérios… Donas de casas, professores, comerciantes, vendedores… Tantas identidades e universos. Anônimos. Pacientes da saúde mental. Vidas que, como quaisquer outras, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), demandam estrutura adequada dos equipamentos que as atende. Pessoas que, em Fortaleza, sabem de uma necessidade básica: ter Centros de Atendimento Psicossocial (Caps) em condições de garantir acompanhamento necessário para que as internações, se possível, ocorram.
Os pacientes dos Caps ainda têm de batalhar bastante para usufruir de terapias múltiplas, que os acolham e os percebam em suas diferenças.
A Reforma Psiquiátrica trouxe novos parâmetros: a descontinuidade de hospitais e a estruturação de uma rede substitutiva. Os Centros de Atenção são soluções, ainda que acumulem dilemas. “Quando eu cheguei, eu tava em um estado que não conseguia interagir com as pessoas, eu tinha medo de tudo. Eu não sorria, não queria comer. Já cheguei a ter um início de um surto”, conta a dona de casa Evelina Pinto. Diagnosticada com depressão e síndrome do pânico, ela é uma das participantes das ações terapêuticas no Caps do Bom Jardim.
O equipamento é um dos 15 Caps de Fortaleza e, se guarda pontos críticos como os demais – carências estruturais, falta de recursos humanos e ausência de medicamentos -, também se diferencia, pois é uma das únicas unidades a ter terapias integrativas.
Estes tratamentos, admitidos pelo Ministério da Saúde, são ações de cuidado transversais e incentivam mecanismos naturais de prevenção de doenças. Massoterapia, reike, musicoterapia e acupuntura são exemplos dessas práticas.
Em Fortaleza, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), os Caps das regionais I e V ofertam esse tipo de terapia, sendo, conveniado ao projeto Quatro Varas e ao Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim, respectivamente.
A unidade do Bom Jardim é espaço de cuidado também para a auxiliar de distribuição Cibele Maria da Silva, que diagnosticada com transtorno bipolar já passou por três internações. “Eu preciso do acompanhamento psicológico diário. Venho quatro vezes para o Caps. Os grupos terapêuticos melhoram minha capacidade de me relacionar com as pessoas”, garante.
A sensação é reiterada pelo vigilante Erenildo Lima, que tem depressão e, há dois anos, é atendido no local. “As atividades e os grupos são muito bons. É uma pena que faltem médicos”. Os dilemas, relata o grupo, referem-se à ausência de profissionais e isto afeta o tratamento.
Conflito
O presidente do Conselho Regional de Psicologia, Diego Mendonça, destaca que mesmo com o sucateamento dos Caps “isso não significa que eles deixam de ser os equipamentos de referência de preservação da autonomia das pessoas”. Além disso, reforça que a necessidade de ampliação da rede é evidente, pois, segundo ele, as estruturas criadas já são inauguradas com superlotação.
A psicóloga e integrante do Fórum da Luta Antimanicomial no Ceará, Núbia Caetano, reitera a análise e acrescenta: “abrir um serviço é um passo, mantê-los é outro. Hoje há muita dificuldade de manutenção”. As precariedades nesta rede substitutiva, destaca, podem amplificar discursos de que os Caps não são eficazes. E isto é uma distorção.
O coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial da SMS, Rui de Gouveia, admite os pontos críticos e explica que, em Fortaleza, a Prefeitura está estruturando nos postos de saúde e nas seis centrais de distribuição a disponibilização dos 41 medicamentos considerados essenciais para a saúde mental. O modelo é semelhante ao adotado na atenção primária. Em relação ao concurso para profissionais do Caps, ele promete que a convocação para a ocupação das 88 vagas vai ocorrer até maio.
Fonte: Diário do Nordeste