É o que diz relatório do banco UBS divulgado nesta segunda-feira (5)
A recuperação dos países mais desenvolvidos do mundo e fundamentos mais sólidos da economia brasileira permitiram que o mercado financeiro tivesse uma reação mais pontual e controlada ante a crise desencadeada pelas delações do empresário Joesley Batista, da JBS. É o que diz relatório do banco UBS divulgado nesta segunda-feira (5).
Na análise, o economista-chefe do banco, Tony Volpon, comparou a reação da Bolsa e do dólar no dia seguinte à divulgação da notícia de que Joesley teria gravado áudios do presidente Michel Temer com a crise observada na segunda metade de 2015 durante o governo Dilma Rousseff. Na ocasião, a administração petista sinalizou que não daria continuidade à política fiscal restritiva, provocando uma venda generalizada no mercado.
Se, no dia após a delação, o dólar disparou 8%, os pregões seguintes foram de recuperação. Desde o fechamento de 17 de maio, a moeda americana acumula valorização de 5%.
Em 2015, no mesmo ponto, o dólar se valorizava 9,4% e chegou a disparar 30% no final de setembro. “É muito difícil explicar por que o mercado tem ou não alguma reação. Mas, em 2015, havia condições financeiras diferentes, com o crédito mais caro e menos disposição dos bancos de emprestar dinheiro”, analista.
Agora, apesar da volatilidade que ocorreu, as condições financeiras não se alteraram, ressalta. A inflação em queda e o cenário de corte da taxa de juros apoiam a retomada do crescimento. “Até que isso mude objetivamente, não há razão para pessimismo de que isso vá impactar a economia”, diz Volpon.
Aliado ao cenário mais estável da economia brasileira, o exterior também contribuiu para que os mercados absorvessem melhor o choque da delação do executivo da JBS, afirma o economista-chefe do UBS.
“Há dados concretos que comprovam a recuperação, as Bolsas globais estão perto das máximas históricas e tendem a precificar a visão dos investidores sobre o crescimento. A maior surpresa econômica é a força do crescimento europeu, mesmo com todos os problemas políticos em Grécia e no Reino Unido”, ressalta.
Esse ambiente global é bom para economias emergentes, exportadoras de matérias-primas. “O que vemos muitas vezes é que o estrangeiro, que aloca dinheiro no mundo, tende a menosprezar fatores domésticos. O global sempre vai ser mais importante que o local”, afirma.
BC FORTE
Segundo Volpon, o Banco Central dispõe, hoje, de mais ferramentas para conter uma eventual volatilidade no câmbio do que possuía em 2015. Uma das razões para isso é a posição de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro).
Em meados de 2015, o BC tinha uma posição de US$ 108 bilhões. Hoje, essa exposição é de US$ 17,7 bilhões, segundo dados de abril. “Há uma percepção no mercado de que o BC poderia dar mais apoio ao mercado de câmbio, o que mantém as pessoas mais seguras”, ressalta o economista.
Nem a dúvida sobre a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista afeta o investidor. “Há uma crença de que, independentemente do que ocorrer, a coalizão vai continuar no poder. E, na Previdência, o impacto da reforma nos primeiros anos não é muito grande, por causa das regras de transição”, diz.
Logo, um adiamento da aprovação para 2019, após as eleições do próximo ano, não mudaria essencialmente a trajetória de ajuste fiscal, na avaliação de Volpon.
“Com aprovação da reforma, teríamos uma melhora adicional das condições financeiras, a Bolsa subiria ainda mais, os juros cairiam ainda mais”, conclui.
Com informações da Folhapress.