Julia Ionele fez na conclusão de curso de Jornalismo da UFC um apanhado sobre o Cine Nazaré, aberto em 1941 no Parque Araxá
A aluna do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) Julia Ionele fez do trabalho de conclusão de curso um arquivo de memórias de uma Fortaleza que já não existe mais.
A estudante, que cursa o 8º semestre da graduação, escreveu o livro-reportagem sobre o Cine Nazaré, o último cinema de bairro que segue em atividade na capital cearense. O livro: Cine Nazaré – Um cinema vivo – busca resgatar a memória coletiva e afetiva do cinema.
O Cine Nazaré abriu as portas no ano de 1941, no bairro Parque Araxá. Em 76 anos de funcionamento, foi palco de muitos romances, histórias e lembranças de uma Fortaleza antiga.
O cinema é resistência ao período da ditadura militar, ao avanço da tecnologia e da nova forma da organização social. Ele resiste no mesmo lugar, na Rua Padre Graça, no número 65.
O espaço é uma saleta cinematográfica com capacidade para 80 pessoas, os filmes são projetados com retroprojetores da forma antiga e os clássicos em preto e branco que já não se encontra em quase nenhum acervo da capital.
A chegada do cinema falado na capital cearense é datada de 1930. Nesse período, a sociedade passava por mudanças decorrentes do avanço dos investimentos nas áreas de infraestrutura. As salas de cinema foram uma atração para a população. A diversão simples e acessível fez com que as pessoas passassem a frequentar cada vez mais o ambiente cinematográfico.A produção narra os 76 anos da história do Cine Nazaré, relatando a vida de Raimundo Carneiro de Araújo, o seu Vavá, responsável por manter o cinema vivo até os dias atuais e por conservar todo o maquinário da década de 1920 e 1930, além do acervo de duas mil películas, títulos que já não são encontrados em nenhum lugar, como O Ébrio, Dio como te amo e Carmen Miranda. O cinema do bairro Otávio Bonfim é um acervo vivo películas do século passado.
Os cinemas mais conhecidos de Fortaleza no período citado eram o Cine Majestic (aberto em 1917, por Plácido de Carvalho, no Centro de Fortaleza), o Cine Moderno (inaugurado em 1921, pelo grupo Luiz Severiano Ribeiro no Centro) e Cine Polytheama (inaugurado em 1911, também no Centro, onde hoje está funcionando o Cine São Luiz).
O avanço da desvalorização do cinema fortalezense reflete não apenas em perdas audiovisuais, mas afetivas e identitárias. Por isso, a importância de recuperar o cinema como instrumento de identidade cultural.
Etapas da publicação
O livro está estruturado em quatro capítulos, cada um retratando diferentes fases da vida do cinema. O capítulo 1, denominado “Nasce o Cine Nazaré”, traz informações da construção do cinema e dos primeiros anos de funcionamento. O capítulo 2, que recebe o nome “A reabertura do Nazaré”, traz a segunda fase do cinema, no final dos anos 60 e a forma de organização dele.
O terceiro, “Cine Nazaré é resistência”, busca trazer a reabertura do cinema nos anos 2000 e a nova forma de funcionamento. Já a última parte do livro, denominada “Cine Nazaré vive”, procura trazer explicações do que será o Cine Nazaré nos próximos anos. Julia destaca a importância de retratar o Cine Nazaré.
“Eu queria passar pela graduação deixando para as pessoas uma boa história que elas pudessem passar a diante, eu queria mostrar a importância de fazer jornalismo para as pessoas e o Cine Nazaré foi à concretização do sonho de fazer um jornalismo comunitário”, afirmou a jornalista.
O livro foi orientado pelo professor e mestre da Universidade Federal do Ceará Ronaldo Salgado, precursor da Revista Entrevista e orientador do livro Cine Diogo – O cinema azul.