O esvaziamento das reuniões dominicais no Palácio do Governo são o termômetro do baque que se abateu sobre o projeto de Dória

Com a aproximação das eleições de 2022, muitos cenários começaram ser pensados com relação à Presidência da República. E em um destes cenários está o governador de São Paulo João Dória (PSDB).

No entanto, tucanos próximos a João Doria avaliam que o “movimento brusco” de ACM Neto, levando o DEM para mais perto de Jair Bolsonaro — ainda que o baiano negue –, é, sim, um baque para o projeto presidencial do governador de São Paulo, transformando-se em uma verdadeira “fratura exposta em suas pretensões.

Em 2018, durante a campanha ao governo, o então prefeito Doria começou a reunir, todo domingo, lideranças políticas de vários partidos em sua casa, no Jardim Europa, área nobre da capital paulista. Geralmente, o cardápio incluía pizza. Já naquele momento, as conversas indicavam a pavimentação para a candidatura de Doria ao Planalto.

Depois, os encontros dominicais passaram a ocorrer no comitê de campanha, que acabou virando a nova sede do PSDB. Os convidados eram seletos e recebiam a orientação para manter a discrição quanto ao conteúdo das reuniões.

Uma vez eleito, o governador Doria mudou de novo o local dos encontros políticos, transferindo-os para o Palácio dos Bandeirantes, mas sempre aos domingos. As rodadas de pizza durante o dia deram lugar a um farto café da manhã na sede do governo local, começando pontualmente às 7h.

Desde o início do convescote informal, ainda na mansão de Doria, os convidados são estimulados a deixar o celular fora do ambiente. E, em sua fala (“muito organizada e planejada”, observou um participante), o governador pede encarecidamente que os assuntos tratados ali não vazem para a imprensa. A pandemia fez com que os encontros passassem a ser quinzenais.

O presidente nacional do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira, já frequentou o encontro de Doria. A O Antagonista, ele negou, porém, que tenha deixado de ir por “rompimento” com o governador. “Eu fui uma vez, quando o Republicanos decidiu apoiá-lo ao governo. Depois, virou um núcleo bem fechado. Eu não fui mais, para não ficar ouvindo falarem, falarem e não falarem nada. Mas não tem nada a ver com rompimento”, disse.

Doria costuma chamar os encontros de “reunião do conselho político”. Na prática, é uma forma de tentar construir sua candidatura nacional e ir testaando os apoios.

Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, também já participou das reuniões. O Antagonista não conseguiu, até a publicação desta nota, contato com ele. Um político próximo a Kassab disse que ele pode ter deixado de ir porque “não desistiu completamente de tentar o governo em 2022”.

Outro que marcava presença era o presidente nacional do DEM, ACM Neto. O entorno de Doria acha que, assim como Pereira e Kassab, o ex-prefeito de Salvador não vai mais aparecer.

Um integrante da executiva nacional do PSDB resumiu assim:

“Certamente, quem mais perdeu com esse movimento brusco do ACM Neto foi o Doria. A gente entende como o Neto se descolando do projeto do Doria. Ele está sinalizando que não quer caminhar junto ou, pelo menos, não se comprometer agora. Talvez o Neto queira não ter a obrigatoriedade do compromisso com o Doria. E estava tudo caminhando, tudo andando para o PSDB caminhar junto com o DEM e o MDB. Até virar a página dois.”

Alguns tucanos ainda querem acreditar que o esvaziamento das reuniões se deu em razão da pandemia.

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