Um aglomerado é formado por estrelas que nasceram simultaneamente na mesma região, têm características físicas semelhantes e se movimentam de forma muito parecida
Os resultados de um estudo conduzido por astrofísicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ganharam espaço na conceituada revista científica inglesa Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Os pesquisadores identificaram três novos aglomerados de estrelas em movimento na Via Láctea e os batizaram em homenagem à universidade.
Cada um desses sistemas, com diâmetro entre 13 e 19 anos-luz, reúne mais de 200 astros ligados por meio da gravidade. Um deles, registrado com o nome de UFMG 1, tem cerca de 800 milhões de anos. Já o UFMG 2 existe há aproximadamente 1,4 bilhão de anos e o UFMG 3 tem idade estimada em 100 milhões de anos. Um aglomerado é formado por estrelas que nasceram simultaneamente na mesma região, têm características físicas semelhantes e se movimentam de forma muito parecida.
Voltada para a divulgação de pesquisas originais sobre astronomia, astrofísica, radioastronomia, cosmologia e projetos de instrumentos astronômicos, a publicação inglesa circula desde 1827 e é uma das mais antigas do mundo. “A Monthly Notices of the Royal Astronomical Society está entre as quatro revistas internacionais mais importantes na área de astronomia”, avalia Wagner Corradi, um dos cinco pesquisadores do Laboratório de Astrofísica da UFMG que participaram do estudo.
A pesquisa baseou-se na análise de dados e imagens celestes obtidos pelo satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia. As imagens captadas foram tratadas e disponibilizadas para acesso ao público. De acordo com Wagner Corradi, o satélite Gaia ofereceu dados com precisão sem precedentes na astrofísica. Ele foi lançado em dezembro de 2013 com o objetivo de mapear mais de 1 bilhão de estrelas. “É um volume absurdo, jamais alcançado na história. E isso está fazendo uma revolução, proporcionando uma série de descobertas”, diz Corradi.
De acordo com o pesquisador, os três aglomerados estelares foram identificados em uma região muito densa. O doutorando Filipe Andrade, que integra a equipe, vinha desenvolvendo técnicas para reconhecer os objetos nesses ambientes. “Um dos dados que o satélite Gaia nos dá e ajuda nessa identificação é a paralaxe [diferença na posição aparente de um objeto visto por dois observadores em pontos diferentes] que, em última medida, nos diz sobre a distância dos objetos”, acrescenta Corradi.
Ele recorre a uma analogia para explicar a descoberta. “São objetos que nasceram mais ou menos no mesmo lugar do espaço e mais ou menos na mesma época. Todos eles estão se movendo mais ou menos no mesmo sentido e com a mesma velocidade. Então é como se fosse identificar um grupo de amigos no meio de um show de rock lotado. Imagine que são amigos que têm a mesma idade, vieram do mesmo bairro, tem características em comum. Se eles forem se mudar de lugar, vão todos juntos e mais ou menos na mesma direção”. A estimativa das idades de objetos no espaço é também feita levando em conta a medição da quantidade de luz emitida.
Segundo Corradi, a identificação e o estudo de novos aglomerados estelares permite ampliar a compreensão acerca da evolução da Via Láctea e das demais galáxias no universo. Além disso, ele ressalta que o avanço da astronomia também gera desenvolvimento para a sociedade. “As câmeras de altíssima resolução com grande capacidade de processamento, desenvolvidas para a astronomia, foram a base tecnológica que permitiu a criação das câmeras de celular de que hoje todas as pessoas usufruem. Sabemos das dificuldades de financiamento, mas para alavancar estudos é preciso investir. Não teremos condições de evoluir na pesquisa brasileira sem apoio”, acrescenta. Com informações da Agência Brasil.