O processo de profissionalização tem seu preço. Segundo a pesquisa, o movimento vem acompanhado de um engessamento da forma como a criança se manifesta

Um recorte do que é tendência no Youtube do Brasil mostra que dos 100 canais brasileiros de maior destaque, 52 são de conteúdo para crianças. O levantamento foi feito pelo Laboratório de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (LABGRIM), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A pesquisa também revelou que os canais que possuem crianças em foco estão apresentando uma profissionalização, as crianças passam a ter uma carreira gerenciada.

“Elas vêm de um processo que começa de forma despretensiosa e passam a construir disso uma rotina, com estrutura inclusive de agências”, afirma a professora Inês Vitorino, uma das coordenadores do estudo.

O fortalecimento desse movimento se deve à mudança de construção de novos astros. A TV perde força e a internet ganha espaço. “A criança muito pequena tem os pais como ídolos. Com a adolescência, ela se desvincula do núcleo familiar, olha a seu redor e observa o que oferece reconhecimento ou não”, esclarece Inês.

Com a produção de conteúdo, a pesquisadora entende que há a criação de um local de expressão própria para a criança. “Há um aprendizado, e elas inauguram um espaço na vida pública que não era tão usual, em que elas podem falar do que gostam e não gostam, do que brincam e do que mais tiverem vontade de falar”, justifica.

O processo de profissionalização tem seu preço. O movimento vem acompanhado de um engessamento da forma como a criança se manifesta. Além do controle dos pais, há o controle gerado pelas marcas e pela publicidade.

Segundo a Inês, a criança acaba sendo roteirizada, por vezes produzindo conteúdo puramente publicitário em vez da brincadeira que a fez iniciar a vida como youtuber.

Grupo de pesquisa

O LABGRIM trabalha há mais de 10 anos com pesquisas multidisciplinares voltadas para o estudo da relação de jovens e crianças com a mídia. Atualmente, o laboratório é coordenado pela professora Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante, do Instituto UFC Virtual.

Fonte: Tribuna do Ceará

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