24 de Novembro de 2017 - Salgueiro - Canal. - REGIONAL - 27re1401 - ANTONIO RODRIGUES

Ministério nega, empresa não fala, mas empregados confirmam a lentidão dos serviços que não avançaram

 A transferência de água do Rio São Francisco para o Ceará fica cada vez mais incerta e distante no tempo. As informações oriundas dos canteiros de obras em Penaforte e Salgueiro (PE) revelam que a Transposição do Velho Chico segue devagar e tem cronograma atrasado. Em muitos trechos, o cenário é de construção paralisada ou em ritmo lento, com reduzido número de operários e ausência de máquinas.

O quadro traz preocupação para os gestores dos Estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba. Em setembro, o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, visitou parte do canteiro no Sertão Central pernambucano e reafirmou que o esforço da pasta de concluir a obra no primeiro semestre de 2018.

Desde a visita do ministro, no entanto, pouca coisa avançou no trecho, segundo informações de um dos engenheiros, que pediu para não ser identificado. Quem visita a construção observa com facilidade o ritmo lento dos serviços de engenharia e pontos ainda paralisados, com trechos do canal sem placas e mato invadindo o eixo central.

Segundo os funcionários de Salgueiro, lá falta apenas limpeza, acabamento e retoque. No entanto, no entorno da BR-116, a quantidade de operários é reduzida para uma construção gigantesca. Uma ponte que deveria estar pronta sobre a rodovia e o canal da Transposição ainda não foi concluída. Na BR-232, na localidade de Uri, zona rural de Salgueiro, os serviços de conclusão de uma barragem e de uma estação de controle de água também não avançaram.

O Consórcio Emsa-Siton, que executa o trecho do Eixo Norte trabalha com dois canteiros, um em Salgueiro, onde a obra está mais avançada, e outro matriz em Penaforte, onde ainda tem muito trabalho a ser feito. Segundo um funcionário da empresa que não quis se identificar lá tem poucos equipamentos, a maioria de terceirizados. “Aqui é só moendo, devagar. Para dizer que não está parado”, disse. Outro funcionário conta que o Consórcio está devendo empresas terceirizadas há quatro meses.

De 14 contratadas, apenas sete continuam trabalhando. Uma demitiu 80 funcionários por falta de recursos e ainda tem débito com alguns desses antigos empregados. No canteiro de Penaforte, deveriam ter 1.500 pessoas trabalhando, mas tem apenas cerca de 480, pela manhã e pela tarde. Enquanto em Salgueiro, a execução só acontece pelo turno da manhã, com aproximadamente 180 homens.

Nos municípios Salgueiro e Penaforte, os moradores comentam que a Emsa não continuará e que as obras vão parar em breve. Os trabalhadores temem demissões. Da antiga construtora, a Mendes Júnior, que abandonou a obra em junho de 2016 por falta de recursos, apenas 16% das pessoas foram contratadas pela atual executora. Na localidade de Pau Ferro, em Salgueiro, os serviços não avançaram. “Aqui não tem nada de máquina e de operários”, disse o agricultor Ailton Pereira. “A gente espera por essa obra e o sentimento é de tristeza por ver um serviço lento”, completa.

Especulações

A obra começou em 2007 e parece não ter um desfecho em curto prazo. Diante das dificuldades técnicas, o Ministério da Integração estaria vendo a possibilidade de notificação oficial ao consórcio Emsa-Siton para que cumpra o cronograma da obra, que em seu trecho tem 146Km de extensão e inclui a construção de estação de bombeamento de água e reservatório.

No entanto, a Assessoria de Comunicação negou que houvesse notificação ao consórcio e disse que a obra segue em ritmo regular. A empresa assinou o contrato em fevereiro e o prazo de execução é de 12 meses. A Emsa-Siton foi procurada por telefone, e-mail e nos canteiros da obra, mas não atendeu para explicar em que percentual está execução do trecho.

A Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), por meio de nota, afirmou que não havia recebido qualquer comunicado do Ministério acerca de possível notificação à empresa que executa a obra de transferência de água do Rio São Francisco, no Trecho Norte. A SRH destacou, ainda, que, pela vontade do Ministério, a obra deveria estar mais acelerada e a pasta tem feito todo esforço para que a água do São Francisco chegue ao Ceará no primeiro semestre de 2018.

Matéria publicada no jornal Diário do Nordeste..

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