Unidades de Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza, desenvolveram dois produtos de baixo custo para a melhoria da qualidade de vida da comunidade: curativo com folha de goiabeira e adubo para reter água no solo
Duas instituições de ensino público foram as grandes vencedoras da 6ª edição do Prêmio “Respostas para o Amanhã”, promovido pela Samsung, cuja proposta é reconhecer projetos de investigação e experimentação científica e/ou tecnológica desenvolvidas por estudantes do Ensino Médio. A dobradinha cearense foi de duas escolas estaduais localizadas em Cascavel, município a cerca de 60 Km da cidade de Fortaleza.
O primeiro lugar ficou com a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Marconi Coelho Reis, cuja turma do 3º ano D desenvolveu um biofilme curativo a partir da farinha de folhas de goiabeira, espécie vegetal comum na cidade. Por conta do potencial antimicrobiano da planta, os testes indicaram uma cicatrização mais rápida em queimaduras de primeiro grau, “quando em contato com a pele por uma semana”.
Outro fator importante é que, por ser um composto biodegradável, a decomposição do material acontece sem impactos negativos ao meio ambiente, ao contrário dos plásticos sintéticos utilizados em outros materiais do tipo. A professora orientadora, Heloína Capistrano, e mais cinco estudantes representantes da equipe também serão contemplados com uma viagem para São Paulo, no próximo dia 28 de outubro, para participarem da etapa Regional do Prêmio na América Latina, onde participarão de workshops e oficinas de capacitação.
“Foi uma surpresa, porque foi a primeira vez que a gente concorreu, e nossa escola acabou de fazer três anos”, comemora a diretora, Iara Valente, que defendeu o “pé no chão” desde o momento da inscrição. “Na escola de tempo integral, um dos princípios é a pesquisa científica. Isso veio ao encontro da nossa proposta de trabalho, que é desenvolver a iniciação científica no Ensino Médio. Você leva o aluno a produzir projetos de resolução e de grande relevância social”, destaca.
Uso agrícola
Na escola vizinha, Ronaldo Caminha Barbosa, o gosto foi de tri. Pelo terceiro ano consecutivo, a instituição ficou entre as vencedoras nacionais do Prêmio. Em 2017, o projeto “SOS Casa” foi campeão e, no ano seguinte, a escola atingiu o mesmo posto com o projeto “Reflexologia Experimental”. Desta vez, o destaque foi o projeto “Agri+”, de combate à escassez de água e de melhoria agrícola em áreas consideradas semiáridas e salinas.
Conforme a professora orientadora do projeto, Jôseline Maria, os estudos partiram de uma dupla constatação em discussões dentro da sala de aula. Primeiro, que os cultivos agrícolas no solo de Cascavel não desenvolvem com facilidade. Segundo, que muitos resíduos agroindustriais jogados nas feiras ou nos engenhos da região não eram utilizados.
“Com o descarte desses produtos, cascas de manga, cascas de abacate e bagaço de cana de açúcar, nós elaboramos nosso material. Fizemos vários testes até chegar ao nosso polímero biodegradável, que é uma espécie de adubo. Depois que validamos, passamos para a comunidade”, explica a estudante Fabiana Ramos, de 18 anos, integrante da equipe de 15 pessoas envolvidas no projeto Agri+.
Incentivo
A combinação consegue reter água no solo, e funcionou para um cultivo de cebolinha. Orgulho para a professora Jôseline. “Eu fico muito feliz, lisonjeada. A minha vontade de continuar vem a partir dos próprios alunos. Nossa escola tem uma delegação científica que se reúne com um líder, uma vez na semana. A gente vai orientando, mas eles mesmos fazem. Eles têm essa visão ampla, essa compreensão”, garante a educadora.
Prova disso é que Fabiana Ramos, mesmo tão jovem, já tem noção da relevância das atividades. “Algumas pessoas têm o olhar de que projetos científicos desse nível só eram desenvolvidos dentro de universidades. Eu me sinto muito realizada porque a gente mostra pra sociedade que nós também temos respostas”, pondera a estudante, que planeja cursar Enfermagem ou Ciências Biológicas.
A diretora da unidade, Amélia Sampaio, atribui os resultados tanto ao trabalho em equipe quanto ao incentivo de projetos como o Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais (NTPPS), no qual os alunos desenvolvem pesquisas desde o 1º ano do Ensino Médio. “Hoje, temos essa tecnologia, e ela coloca para os outros Estados o que o Ceará faz de diferente na rede pública estadual”, ressalta.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), o Núcleo propõe uma reorganização curricular do Ensino Médio por meio do trabalho transdisciplinar. De 2012 a 2018, quase 1.300 profissionais, entre professores e coordenadores, foram formados. No ano passado, 190 escolas estaduais desenvolviam a proposta, sendo 111 de tempo integral e 79 de tempo parcial.
Troca
Isabel Costa, gerente de Cidadania Corporativa da Samsung Brasil, empresa que apoia o projeto há seis anos, afirma que os ganhos vão além da premiação. “O prêmio acaba sendo para estimular os alunos dentro de sala de aula, mas não é para limitar eles a estes espaços. A interação com a comunidade local e acadêmica é essencial. Nosso foco é incentivar essas ações e aproximar esses alunos das áreas da ciência”.
Fonte: Diário do Nordeste