A medida vai ajudar a garantir a origem das peças, valorizando o trabalho do artesão e protegendo quem compra as peças

No balanço do vai e vem, as redes conquistaram o coração e um lugar reservado nos lares do Norte e Nordeste. No Ceará, o município de Jaguaruana, no Vale do Jaguaribe, é conhecido como a “Terra da Rede” e pretende fortalecer ainda mais a produção das peças. Isso porque nesta sexta-feira, 10, a cidade irá receber o selo de “Indicação de Procedência” do tipo Indicação Geográfica (IG), uma etiqueta que deve reconhecer quais redes são fabricadas na cidade.

Jaguaruana é a primeira cidade do Ceará a receber a certificação, por meio da articulação da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) e realização pelo Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec). O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), do Governo Fderal, é a instituição que concede o registro legal de IG no país.

O registro é importante para valorizar o local de origem, pois são atribuídos valores justamente pela reputação e pela identidade própria. Atualmente, Jaguaruana abriga cerca de 200 fábricas de rede, que movimentam a economia local.

O selo deve distinguir as redes de Jaguaruana em relação aos seus similares disponíveis no mercado, justamente o que espera o presidente da Associação dos Artesãos e Fabricantes de Jaguaruana (Asfarja), José Pinheiro Júnior.

O artesão explica que o selo vai funcionar tanto para quem produz quanto para quem pretende comprar as redes. “ Quando você vai comprar em lojas ou com ambulantes e pergunta de onde é a rede, eles vão dizer que é de Jaguaruana, mas, na maioria das vezes não é. Eles estavam explorando nossa marca e não era original”, ressaltou ele. O diferencial, segundo o presidente, é que as redes do municípios são artesanais, com os detalhes ainda feitos à mão, vencendo uma tendência forte de maquinação para a fabricação das redes.

“O que caracteriza a rede de Jaguaruana é a qualidade. É o acabamento, diferente das redes mais populares costuradas ou feitas industrialmente. Nossa rede é realmente artesanal”, pontua ainda Pinheiro. O artesão reforça que isso vai proteger o patrimônio cultural de fazer redes para dormir, antiga na família dele e de toda a cidade. José Pinheiro Júnior já é a terceira geração de fabricantes das peças, que começou com sua avó, e, segundo ele, a tradição vai ficar para seus filhos.

“A produção aqui vem desde os indígenas. Com a chegada dos portugueses se adaptou o fio, que era de cipó e passou para o algodão, com a tecelagem”, afirma ainda o artesão. Segundo ele, a cidade foi se desenvolvendo justamente pela produção da peça. No pedido ao Governo Federal, a associação argumentou que a rede é uma das mais marcantes heranças dos indígenas, especialmente a dos Tapuias. O hábito de descansar em redes se tornou parte da identidade social do jaguaruanense.

“A confecção de redes de dormir existe no município, como herança do mobiliário indígena, os índios passaram a fabricar redes para uso próprio. Essa atividade foi sendo passada para os filhos e ganhando mais e mais adeptos”, ressaltou o texto. Além disso, o desenvolvimento na principal matéria-prima das redes, o algodão, também facilitou o desenvolvimento e a consolidação da produção comercial das redes de dormir ao longo dos anos, sobretudo após o estabelecimento de uma fábrica de beneficiamento de algodão, a Santista, na cidade.

Embora a tradição seja antiga, o pedido para garantir a autenticidade das redes é recente, como explica o vereador do município, Afraudizio (PC do B). Segundo ele, a articulação para garantir o selo é de 2014. “Na década de 90, nós fomos os maiores produtores do Brasil e fornecendo também para fora do país, mas não era formalizado”, explica ele. O processo foi de fortalecer a indústria local para conseguir continuar concorrendo com a produção de outros municípios do Nordeste.

“É como um selo de inspeção do Inmetro. Foi feita uma tabela com requisitos. Existe um manual para dar o selo de qualidade, porque quando se diz que a rede é de Jaguaruana, isso agrega valor. O consumidor vai poder identificar se é ou não do município”, pontua o parlamentar.

Fonte: O Povo Online

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