Pesquisadora do Instituto do Sono, afirma que o acesso contínuo às plataformas interativas dificulta o mecanismo natural do adormecimento causando sérios problemas à saúde mental.

A médica Sandra Doria, pesquisadora do Instituto do Sono, afirma que o acesso contínuo às plataformas interativas neste horário dificulta o mecanismo natural do adormecimento, prejudica a qualidade de sono e favorece o surgimento de doenças que afetam a saúde mental.

Boa parte das pessoas acessa as redes sociais uma hora antes de dormir. O uso dessas plataformas neste horário, no entanto, prejudica o mecanismo necessário para o adormecimento. Momentos antes de ir para a cama, é preciso criar um ambiente relaxante e com baixa iluminação para sinalizar o organismo que chegou a hora de desacelerar.

O acesso a essas mídias inverte este processo, porque expõe o cérebro à luz azul de celulares e tablets, inibindo a produção de melatonina, o hormônio da escuridão. As conversas e a postagem de mensagens e fotos estimulam o internauta a ficar acordado até tarde e dormir em horários variados, tornando o sono mais fragmentado e menos profundo. Com o tempo, o hábito pode levar ao desenvolvimento de distúrbios de sono, que são fatores de risco para a depressão e a ansiedade.

Pesquisadores da Universidade de Western Ontário, no Canadá, analisaram 42 estudos sobre a relação entre o uso de aplicativos de mídia social, a qualidade do sono e sintomas de ansiedade e depressão em jovens de 16 a 25 anos. Publicado em 2021, o estudo canadense constatou que o uso intensivo das redes sociais é um fator de risco para alterações do sono, como a insônia, e sintomas ansiosos e depressivos.

“Dormir bem é vital para o bom funcionamento do nosso organismo, porque contribui para a restauração e o equilíbrio dos nossos sistemas internos. Dentre as muitas funções do sono, está a regulação do humor. Se dormimos pouco, ou com pouca qualidade ou ainda sem ritmo, podemos desenvolver problemas sérios para a nossa saúde mental”, observa a médica Sandra Doria, pesquisadora do Instituto do Sono.

Um estudo norte-americano, publicado em 2021, mostrou que não apenas os jovens compõem a sociedade hiperconectada. Ao analisar 3.284 adultos, com idade média de 42 anos, os pesquisadores da Virginia Commonwealth University destacaram que a ligação entre as mídias sociais e o sono aumentou com a idade. O maior uso dessas plataformas foi associado à pior qualidade e menor duração do sono.

No país dos ansiosos

Antes da pandemia, um levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou o Brasil o país com maior porcentual de ansiosos das Américas. O transtorno atingia 18,6 milhões de pessoas, o equivalente a 9,3% da população. A ansiedade é uma condição mental caracterizada por preocupação intensa, exacerbada e persistente associada ao medo de situações cotidianas.

Estudos epidemiológicos mostram que 50% dos ansiosos possuem distúrbios de sono, principalmente insônia. Podem também ter dificuldade para adormecer e apresentar sono mais fragmentado, superficial e reduzido. Um estudo europeu classificou a insônia como o principal sinal para o aparecimento de ansiedade, por ser 3,2 vezes mais comum nos ansiosos do que nos indivíduos sem esta condição.

A relação entre a ansiedade e as alterações de sono é bidirecional. Assim como o indivíduo ansioso não dorme bem, o sono insuficiente pode desencadear o transtorno de ansiedade em pessoas saudáveis, formando um ciclo vicioso desfavorável. “O paciente com dificuldade para dormir acorda com fadiga, sonolento, cansado e pouco produtivo, passando o dia preocupado com a situação que vai vivenciar à noite. Pode até criar uma aversão a ir para a cama, por pensar que irá dormir mal, não terá um sono reparador. O temor poderá gerar uma insônia”, diz a médica.

A insônia ocorre por pensamentos disfuncionais, comportamentos inadequados como permanecer muito tempo na cama, cochilos diurnos, preocupação excessiva em não conseguir dormir, descansar e desenvolver bem as atividades no dia subsequente. Quando ocorre em conjunto com um quadro de ansiedade tem menor resposta ao tratamento.

Depressão


O levantamento da OMS mostrou que a depressão é menos prevalente que a ansiedade no Brasil. Mesmo assim o transtorno acomete 11,5 milhões de pessoas, o correspondente a 5,8% da população. O volume de casos coloca o Brasil como o segundo país com o maior número de depressivos das Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Esta condição mental é marcada por sentimentos de tristeza e culpa, perda de interesse ou prazer, baixa autoestima, distúrbios de alimentação, sensação de cansaço e falta de concentração. Assim como a ansiedade, mantém uma relação bilateral com os distúrbios de sono. “O paciente dorme mal e acaba colocando isso como grande problema o que favorece a depressão”, explica Sandra Doria. Por outro lado, 90% dos pacientes depressivos apresentam distúrbios de sono, como insônia, apneia obstrutiva do sono e síndrome das pernas inquietas.

A insônia e outros distúrbios de sono interferem na gravidade e duração dos episódios depressivos e no risco de recaídas. “Em 30 a 40% dos pacientes tratados e em remissão completa para sintomas afetivos na depressão, a insônia pode permanecer como um sintoma residual”, afirma a médica. O tratamento deste distúrbio de sono é fundamental para prevenção de quadros depressivos graves, tentativas de suicídio e manejo medicamentoso insatisfatório.

Instituto do Sono

O Instituto do Sono é um centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono. Fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 médicos e outros profissionais de saúde – www.institutodosono.com.

O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada por profissionais da área da saúde, professores universitários e pesquisadores há mais de 40 anos. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população. www.afip.com.br .

Fonte: O Povo Online

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