Escolas mostraram mais força em desfiles e apuração ocorre nesta quarta; a Verde e Rosa busca o bicampeonato
Apesar de o ano ter sido marcado pelos acidentes, cinco agremiações fizeram apresentações com jeito de campeãs: Salgueiro, Beija-Flor, Imperatriz, Portela e Mangueira. Na segunda-feira, os destaques foram as duas últimas, que fecharam o carnaval carioca com bons sambas e passagens memoráveis.
Veja os destaques do segundo dia de desfile na Sapucaí
A Mangueira buscou com fé e disposição conquistar o bicampeonato. O enredo “Só com a ajuda do santo”, originado do tributo prestado em 2016 à cantora Maria Bethânia e à sua religiosidade, foi bem traduzido pelo carnavalesco Leandro Vieira. Ele criou impactantes alegorias, como o abre-alas, com alusão à arte sacra, e o segundo carro, “Viva São João”.
A Verde e Rosa, que faz 90 anos em 2018, já foi bicampeã quatro vezes em sua história. O fato de a última ocasião ter sido em 1986/1987 – exatamente há três décadas – vem mexendo com as esperanças de seus componentes e dirigentes.
“A Mangueira não entrou pensando em ser bicampeã, e sim em brincar o carnaval. Se ganhar, ganhou”, declarou o carnavalesco já de manhã, em tom oposto aos das arquibancadas populares, que bradavam “bicampeã!”
Sob a inspiração do clássico samba de Paulinho da Viola “Foi um rio que passou em minha vida”, a Portela, em ano inspirado do carnavalesco Paulo Barros, considerado um dos inovadores do carnaval carioca da atualidade, mostrou uma sequência de alegorias de fortíssimo apelo visual. Elas usaram recursos tecnológicos surpreendentes.
A Sapucaí sempre recebe bem a tradicional escola da zona norte do Rio, a mais antiga do Grupo Especial (foi fundada em 1923). Desta vez, ficou boquiaberta, diante da passagem da comissão de frente, que representava a piracema (volta dos peixes à cabeceira dos rios, para desova), e dos pelos carros cheios de efeitos com água.
“É a plenitude total”, definiu Barros, felicíssimo, ao fim da apresentação, que começara sob o signo da tristeza deixada pela Unidos da Tijuca.
A Unidos da Tijuca, atual vice-campeã e casa de Barros até 2014, viveu um drama. A agremiação levou à Marquês de Sapucaí a história da música americana com o enredo “Música na alma, inspiração de uma nação”, e tinha alegorias e fantasias divertidas, que remetiam a diversos estilos musicais, como o blues, o country e o hip-hop. Entretanto, o que ficará na lembrança será a imagem triste do desabamento de parte do segundo carro e do choro de decepção de seus integrantes, acostumados aos bons resultados da escola, ameaçados este ano, e chocados com o acidente que deixou 12 feridos.
Antes da Tijuca, passaram pela avenida União da Ilha, São Clemente e Mocidade. A Ilha carnavalizou tradições e ritos de povos bantos e fez um desfile bonito; no entanto, teve dificuldades técnicas com o penúltimo carro. A apresentação da São Clemente foi leve a bem acabada, ambientada na corte do rei francês Luis XIV e com o bom gosto e capricho característicos da carnavalesca Rosa Magalhães.
A Mocidade cantou o Marrocos e suas riquezas, com um samba melódico e carros alegóricos ricos e compostos por enormes esculturas articuladas, Também encantou com um uma imagem tridimensional do personagem Aladim, em um tapete mágico, que sobrevoou a avenida. Credenciou-se para sonhar com o desfile das campeãs, do qual está fora desde 2003.
Primeiro dia. No domingo, só Beija-Flor, Salgueiro e Imperatriz fizeram desfiles parelhos ao da Portela e Mangueira, A Grande Rio, que homenageou Ivete Sangalo, foi muito elogiada – menos pelo que apresentou e mais pelo carisma da cantora baiana. Todas essas são escolas que investiram cerca de R$ 10 milhões, cada uma, neste carnaval, que pareceu não ter sido impactado pela crise financeira brasileira, apesar da redução de patrocínios.
As novas regras da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) resultaram em desfiles mais dinâmicos, como se queria. As alas fluíram melhor e o menor números de paradas nas cabines dos jurados para as performances das comissões de frente e casais de mestre-sala e porta-bandeira foram um ganho.
No entanto, a redução do tempo de desfiles de 82 para 75 minutos levou algumas escolas a correr para não estourar a tempo, como a Grande Rio, a Beija-Flor, a Ilha e a Unidos da Tijuca e o Tuiuti. Essas duas últimas sofreram os acidentes mais graves.
Com Estadão..