Descoberta inédita de astrônomos identifica as chamadas ‘perturbações de maré’, ou TDE. O fenômeno é resultado dos efeitos gravitacionais de quando as forças de um buraco negro dominam a gravidade de um corpo celeste e o despedaçam.
A agência espacial norte-americana (Nasa) observou pela primeira vez o momento em que uma estrela é “engolida” por um buraco negro supermassivo. No estudo publicado nesta quinta-feira (26) pela revista “The Astrophysical Journal”, cientistas defendem que descoberta é um marco para entender mais sobre este fenômeno.
Segundo os astrônomos, o que o satélite capturou foi a destruição de uma estrela por meio de efeitos gravitacionais – as chamadas “perturbações de maré”, ou da sigla em inglês TDE. O fenômeno ocorre quando as forças do buraco negro supermassivo dominam a gravidade do corpo celeste e o despedaçam.
De acordo com a pesquisa, a interação que recebeu o nome de “ASASSN-19bt” emitiu uma luz que pôde ser identificada pelo telescópio espacial do satélite TESS, um “caçador de planetas” – lançado para identificar formações ainda desconhecidas.
A descoberta em 5 fatos
- O satélite TESS é um “caçador de planetas“, mas também registrou este fenômeno
- Observação original foi feita em 29 de janeiro de 2019
- Este buraco negro tem 6 milhões de vezes a massa do Sol
- Dados ajudarão a entender mais sobre as “perturbações da maré“
- Cientistas conseguirão saber de que era formada a estrela pela sua radiação
Os cientistas explicam que, em uma destruição como esta, parte do material da estrela que é “engolido” pelo buraco negro forma um disco de gás quente e brilhante. Os especialistas estimam que este buraco negro tem a massa de mais de 6 milhões de sóis.
Satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) foi responsável pela descoberta — Foto: Reprodução/Nasa
Fenômeno é paradigma
“Apenas alguns TDE foram descobertos antes de atingirem o pico de brilho, e ele foi encontrado apenas alguns dias depois que começou a brilhar mais intensamente”, celebrou, em nota, o astrônomo Thomas Holoien, um dos autores do estudo.
O pesquisador destacou que, por estar dentro da zona de visualização contínua do satélite TESS, o fenômeno pôde ser acompanhado com atualizações quase em tempo real, a cada 30 minutos.
Área de cobertura do satélite TESS. As atualizações são feitas a cada meia hora. — Foto: Reprodução/Nasa
Além disso, explicou que há dados dos últimos meses que podem identificar toda a trajetória do fenômeno, e não só o momento de luz. Isso nunca foi feito antes e torna a perturbação ASASSN-19bt um paradigma nas pesquisas sobre TDE.
As perturbações de maré são raras e, segundo a Nasa, este fenômeno foi observado apenas 40 vezes na história, mas nenhuma vez foi acompanhado desde o princípio como agora.
Por que ilustrações?
As imagens do buraco negro supermassivo, apresentadas pelos pesquisadores, são ilustrações. Isso acontece porque o registro que é feito pelos cientistas não é fotográfico. Os equipamentos de observação astronômica capturam dados, como as frequências de ondas, que são posteriormente traduzidos a modelos gráficos.
Nosso colunista Cássio Barbosa explicou que a distância até o buraco negro (ou outra coisa fora do Sistema Solar) é tão grande, que qualquer objeto fica minúsculo, reduzido a apenas um ponto de luz. E no caso do buraco negro, nem isso, já que ele não emite luz.
“Nesses eventos em que o buraco negro engole matéria, o disco de que se forma em volta dele vira um pontinho de luz por causa da distância”, ressaltou o astrofísico.
Capturar a imagem de um buraco negro é um desafio dentro da comunidade científica. A primeira delas foi feita apenas neste ano, em 10 de abril. O feito foi considerado um marco na física.
Primeira imagem já registrada de um buraco negro é divulgada por astrônomos — Foto: Reprodução/National Science Foundation/Event Horizon Telescope
O buraco negro da foto está no centro da galáxia M87, a cerca de 50 milhões de anos-luz da Terra. Ele tem 40 bilhões de quilômetros de diâmetro – cerca de 3 milhões de vezes o tamanho de nosso planeta – e é descrito pelos cientistas como um “monstro”.
A captação da imagem foi possível ao se observar o disco de acreção, um tipo de estrutura formada pelo movimento orbital ao redor de um corpo central, como se fosse água em um ralo. Perto do buraco negro, a formação do disco fica tão quente que brilha, emitindo luz
Composição da estrela
O cientista norte-americano comentou que observava o céu do Chile, na noite da descoberta, com um equipamento de espectrometria. Com os resultados captados pelo dispositivo, ele conseguirá identificar quais são os materiais que formavam a estrela destroçada.
Equipamentos utilizados pelo astrônomo separam os espectros da luz de um objeto ou evento celeste. Com isso, há o registro dos comprimentos de onda emitidos pela estrela.
Ilustração da Nasa mostra o momento em que estrela é “devorada” por buraco negro. O aro iluminado é composto por gases — Foto: Reprodução/Nasa
Parecido com um código de barras, o desenho da radiação eletromagnética traz informações sobre o material e a velocidade em que a estrela se deslocavam. Ele é formado quase como um arco-íris, que decompõe a luz do sol por meio de um prisma.
O que é um buraco negro?
Os buracos negros são uma enorme quantidade de massa concentrada em um espaço muito reduzido. Seu campo gravitacional é tão forte que ele atrai para si tudo o que se aproxima dele, inclusive a luz.
Como surgem os buracos negros?
Além da colisão entre dois buracos pré-existentes, outra forma de produzir um buraco negro é quando uma estrela muito massiva (tem grande massa) deixa de emitir luz no final da sua vida. O centro dessa estrela entra em colapso e ocorre a chamada explosão supernova. Isso pode produzir um buraco negro “estelar”.
De acordo com a Nasa, a maioria dos buracos negros é desse tipo, ou seja, uma espécie de “objeto em colapso congelado”. Os detalhes de por que isso acontece ainda são um mistério para os cientistas.
Qual é o tamanho de um buraco negro?
Ainda há muito o que se descobrir sobre os buracos negros, mas sabemos que eles podem ter tamanhos diversos. Os buracos negros estelares, que podem ter tamanho dezenas de vezes maiores do que o nosso Sol, costumam ser menores que os supermassivos.
Um buraco negro supermassivo, por exemplo, pode ser milhões de vezes maior que o Sol. Ao mesmo tempo, essa massa gigantesca é muito compacta, e pode ocupar, por exemplo, um espaço consideravelmente menor do que o de um planeta pequeno do Sistema Solar
Fonte: Fabio Manzano, G1