Sob o risco de perder o cargo, o presidente Michel Temer encerrou neste sábado sua rápida passagem pela cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha, sem ter participado de nenhum encontro bilateral com outros chefes de Estado. Ele inclusive retornou ao Brasil antes do encerramento, perdendo o último almoço com as demais autoridades.

O G20 é formado pelas maiores 19 economias do mundo e a União Europeia. O encontro anual do grupo, organizado desde 2008, costuma ser uma oportunidade para os principais líderes mundiais realizarem encontros fechados.

O presidente argentino, Mauricio Macri, por exemplo, teve reuniões com o recém-eleito presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong.

O maior destaque ficou por conta do primeiro encontro entre os atuais presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, que durou mais de duas horas.

Antecessora de Temer, a ex-presidente Dilma Rousseff manteve agendas bilaterais nas cinco cúpulas do G20 das quais participou, ocasiões em que se reuniu com líderes de países como Alemanha, Índia, China, Rússia, Canadá, Espanha, Argentina, Itália, Turquia, entre outros.

Levantamento realizado pela BBC Brasil a partir de registros do Palácio do Planalto indica que, desde 2009, um presidente brasileiro não passava pelo G20 sem realizar reuniões bilaterais.

Naquele ano, o encontro em Pittsburgh, nos Estados Unidos, foi realizado em setembro, logo após a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia realizado encontros com líderes de cinco países (Espanha, Nova Zelândia, Ucrânia, Hungria e Irã).

O próprio Temer realizou no encontro do G20 de 2016, na China, quatro reuniões bilaterais, com líderes de Japão, Itália, Espanha e Arábia Saudita. Na ocasião, ele havia acabado de ser confirmado no cargo, após a condenação de Dilma no processo de impeachment.

Dessa vez, ele próprio enfrenta uma grave crise política e chegou a anunciar que não iria ao G20 – mas recuou e acabou confirmando sua presença na segunda-feira, poucos dias antes do início do evento, na última sexta-feira.

Decisão em cima da hora

Líderes do G20 posam para fotoDireito de imagemGETTY
Image captionEncontro anual do G20, que é formado pelas maiores 19 economias do mundo mais a União Europeia, é realizado desde 2008

Analistas ouvidos pela BBC Brasil entendem que esse foi o principal motivo que impediu a programação de reuniões bilaterais. Um almoço que ocorreria com a chanceler Angela Merkel em Berlim antes da cúpula acabou desmarcado.

“Entendo que a decisão de vir aqui foi feita em cima da hora. Claramente, dada a situação política do Brasil nesse momento, ele sente muita pressão para lidar com sua agenda doméstica. Então, não acredito que seja um reflexo de outros chefes de governo (tentando evitar Temer)”, disse à BBC Brasil Thomas Bernes, do Centro Internacional para a Inovação na Governança, que estava presente na cúpula como integrante do T20, uma agremiação de think tanks (instituições de pesquisas) sobre o G20.

“Essas agendas (bilaterais) são organizadas cedo. Cada líder tem muito pouco tempo, e esses são encontros críticos para os países. É burocrático marcar, então, tentar organizar algo no último minuto é muito difícil. Você acaba tentando pegar alguém no café ou nos drinks depois da orquestra (os líderes assistiram a um concerto na sexta)”, observou.

Foi o que aconteceu com Temer. Nos intervalos das reuniões do G20, ele teve conversas rápidas, de alguns minutos, com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente americano, Donald Trump.

Essas conversas são diferentes de encontros reservados, marcados previamente, que permite uma discussão mais consistente e indica mais compromisso dos países com a agenda em discussão.

Além disso, Temer também se reuniu com Macri e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, compromisso que já estava previamente previsto na agenda do presidente argentino. O encontro serviu para conversas sobre as negociações, que já se arrastam há algum tempo, para um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

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