Ela era conhecida por toda Florianópolis como tia Hilda
A infância de Hilda em Florianópolis foi atropelada pela pobreza, a fome e o trabalho. Aos 12, já era rendeira para ajudar a mãe lavadeira e o pai pescador. Benzedeira, a matriarca chamava a menina para aprender a reza, mas ela dizia “eu não, eu vou é dançar”. Queria mesmo era de ir aos bailes da cidade.
Certa vez, porém, uma vizinha pediu à menina que benzesse seu filho, com “quebrante, provavelmente devido ao mau olhado”, contava Hilda. Sua primeira reza, aos 15 anos, se espalhou pela região e muitas pessoas passaram a ir atrás do dom da mãe e da filha.
Acredita-se que a tradição, que mistura o catolicismo com o místico, é responsável pela cura de doenças e por afastar males. Desde calcanhar rachado e virose até mau-olhado e inveja, tudo pode ser curado. “Eu benzo o pessoal com isso aqui [terço]. Quando não tem, eu benzo com a mão e com as ervinhas também”, afirmou a catarinense numa entrevista.
Ela dizia que para conseguir a cura tanto quem faz a bênção quanto quem a recebe precisa ter fé em Deus e acreditar que dará certo. Hilda sempre repetia “Eu que te benzo, Deus que te cura”.
Gostava da oração de santa Bárbara, aprendida com a mãe, que rezava quando o pai estava no mar. “Santa Bárbara, são Simão, livrai-nos dos raios e do trovão.”
Conhecida por toda Florianópolis como tia Hilda, continuou a tradição até mesmo quando suas mãos já eram centenárias. Todas as tardes saía de casa para ir ao cantinho onde recebia pessoas à procura de seus dotes.
No dia 4 de agosto, porém, a cidade perdeu uma de suas últimas e mais antigas benzedeiras. Após complicações de uma infecção urinária, Hilda Martinha Viera morreu aos 104 anos. Com informações da Folhapress.