Devido à falta de recursos para consertar o motor da van adaptada, o Projeto Banho Digno está suspenso há cerca de oito meses
Uma van adaptada para levar banho e, mais do que isso, dignidade a pessoas em situação de rua em Fortaleza. É esse o propósito do Projeto Banho Digno, iniciado em 2017, mas temporariamente suspenso devido à falta de recursos.
Idealizador do projeto, Milton Mendes explica que o motor do automóvel – fruto de doação – quebrou em janeiro. Desde então, ele vem buscando ajuda financeira para retomar as visitas a praças, viadutos, avenidas e ruelas da Capital, onde adultos e crianças em vulnerabilidade podem ter a chance de tomar um banho.
Uma vaquinha virtual para que o projeto volte às ruas foi lançada recentemente na plataforma Só Vaquinha Boa. A meta de R$ 10 mil, porém, ainda está longe de ser alcançada. Até a publicação desta matéria, só foram arrecadados R$ 225 (2% do total). A vaquinha permite doações via pix, cartão de crédito ou boleto.
O dinheiro será usado prioritariamente no conserto da van e, caso haja algum valor excedente, será destinado à compra de produtos de higiene pessoal, também doados pelo projeto a quem vai tomar banho. O kit inclui creme dental, escova de dente, sabonete, absorventes, xampu e até fraldas, a depender da necessidade de cada pessoa. Além de outros itens.
“A gente adaptou três banheiros com chuveiro na van: dois pra homem e um pra mulher. E tem uma parte dentro da van que é o berçário para as crianças, onde elas tomam banho, trocam fralda”, detalha Mendes.
Ele estima que o projeto já chegou a disponibilizar 130 a 170 banhos por dia na Capital, três vezes por semana. Isso somente quando as doações eram mais robustas. Quando não, a frequência de banhos caía para apenas uma vez a cada sete ou até 15 dias.
‘ME DÓI MUITO’
Os banhos são possíveis porque a equipe de sete voluntários posiciona uma carroça com um tambor de mil litros de água atrás da van. Por fim, um motor move uma bomba que leva a água pelo encanamento improvisado até os banheiros. A água também é custeada pelo projeto.
Para Mendes, a paralisação das ações é motivo de “muita tristeza”. “Claro que tem três banheiros que a mãezinha toma banho, os homens também, mas o meu alvo central são as crianças. Me preocupo muito com as crianças assadas, cheias de piolho. Me dói muito”.
Além dos banhos, o Projeto Banho Digno também tem parceria com casas de recuperação para dependentes químicos e alcoolistas e oferece ajuda àqueles que desejam entrar em contato com a família e deixar as ruas.
“A gente conhece pessoa que participou do banho e que hoje está com sua família. Isso é o impacto que gera o Banho Digno”.
Outro exemplo de impacto do projeto, rememora o idealizador, foi um episódio em que uma mãe o agradeceu por ter a filha banhada.Uma mãe chegou pra mim, chorando, e disse: ‘Muito obrigada por você me dar a oportunidade de, depois de seis meses, eu voltar a sentir o cheiro da minha filha. Porque ela tomava banho na praia e tinha o cheiro de sal; tomava banho na bica e tinha cheiro de lodo. Mas hoje, eu sinto o verdadeiro cheiro da minha filha’. Isso foi muito impactante” MILTON MENDES – Idealizador do Projeto Banho Digno
Fonte: Diário do Nordeste