Vânia divide todas as doações que recebe com a família, que está espalhada por Fortaleza em casas de parentes ou também em situação de rua. O dinheiro da vaquinha online servirá para pagar o valor de entrada de um imóvel

Após perder a renda durante a pandemia, Vânia Sousa, 45, acabou precisando deixar a casa em que morava de aluguel no bairro Bom Jardim. Ela passou a viver debaixo de lonas na avenida Luciano Carneiro, no bairro de Fátima. A mulher já está em situação de rua há quatro meses e pede ajuda para custear o valor de entrada em uma casa no antigo bairro.

Fogão, botijão de gás, roupas e até mesmo a alimentação cotidiana são itens conseguidos por doações que recebe de pessoas que passam na rua e decidem ajudá-la. Uma dessas pessoas, Ronner Braga Gondim, 43, resolveu fazer uma vaquinha online para arrecadar R$ 3 mil, que serviriam de entrada para a casa própria de dona Vânia.

“Sempre eu botei vendinha dentro de casa. Depois desta pandemia, eu perdi tudo, foi tudo pro aluguel”, relata Vânia. Ela explica que conseguiu fazer negócio com um conhecido que deixará ela parcelar o resto do valor da casa, que no total custa R$ 9 mil. “Se eu conseguir os R$ 3 mil, dou de entrada e vai ficar pra eu ficar pagando o resto. O resto vou ter que me virar, ou comprar uma coisa pra vender no sinal, ou vir pra cá. Eu vou pra dentro de casa só com o bujão e o fogão”, diz.

Ronner explica que já conseguiu metade do valor necessário apenas dentro de sua rede de contatos. “Ela fica no caminho do meu trabalho. Eu resolvi fazer alguma coisa. É uma situação muito difícil”, afirma.

Doações são divididas entre familiares

Apesar de ter familiares que têm moradia, Vânia não pode viver com eles, pois a situação de vulnerabilidade econômica afeta a todos, e as doações que consegue no sinal muitas vezes são o que traz alimentação à família.

“Tudo que eu ganho aqui é dividido pra minha família, daqui eu tiro o sustento pra gente comer, pro meu filho e pra minha filha. As doações de roupas eu boto pra minha filha, e ela vende”, conta Vânia. Na mesma calçada em que mora, ficam também uma irmã e o sobrinho.

Até pouco tempo, Vânia dividia a barraca com um irmão. No entanto, ele acabou falecendo por complicações respiratórias após ter tuberculose. “’Tô’ sofrendo muito muito, ele era a pessoa que eu era mais apegada na vida. Eu ‘tô’ com uma depressão grande”.

Os esforços agora são para arrecadar também doações para os filhos que o irmão deixou, uma menina de 8 anos e um menino de 14, que estão sob cuidados de outros familiares. Além disso, Vânia se preocupa com mais duas crianças que vão nascer na família, pois a filha e a nora dela estão grávidas.

Dona Vania, 45 anos, está há três meses em situação de rua em Fortaleza
Dona Vania, 45 anos, está há três meses em situação de rua em Fortaleza (Foto: Thais Mesquita)

“Ninguém dorme sossegado”

A rotina de Vânia na rua é compartilhada com outras pessoas em situação de vulnerabilidade que pedem dinheiro no sinal de trânsito como forma de conseguir sobreviver. William Ananias, 45, é um dos que compartilham o dia a dia na rua com Vânia. Apesar de morar de aluguel em uma casa, William volta ao sinal para pedir doações e assim comprar uma cadeira de rodas, pois o equipamento que usa é alugado.

“Aqui o pessoal já ‘tá’ começando a falar, pensa que a gente ‘tá’ aqui porque quer”, reclama Vânia, que diz ter medo de sofrer algum tipo de violência. “Um dia desses, passou um rapaz de madrugada e disse: ‘Acorda, bando de vagabundo’. Isso a gente entra em depressão. Mas não adianta falar, vai que está armado. Ninguém dorme sossegado”.

Vânia conta ainda que pediu auxílio para o Programa Locação Social (PLS) da Prefeitura de Fortaleza em maio, mas até hoje não teve retorno. Quando questionada sobre o que leva um pedido de aluguel social a ser rejeitado, a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional (Habitafor) respondeu por e-mail que “em geral, o auxílio não é negado”, visto que as demandas de pessoas em situação de rua, em situações emergenciais ou famílias impactadas pelos projetos de urbanização do Município são prioridade no programa.

De acordo com a Habitafor, mais de 300 pessoas que estavam em situação de rua recebem o benefício atualmente. De janeiro até julho de 2021, 336 pessoas solicitaram o aluguel social. A Habitafor explicou que existe uma fila de espera, mas não informou a quantidade de pessoas aguardando, disse apenas que o número é “varíavel”.

Para tirar dúvidas e receber informações sobre processos de aluguel social ou outros auxílios específicos para pessoas em situação de rua, a orientação repassada é para que os cidadãos procurem o Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop).

Endereço dos Centro Pop:

Centro Pop Centro
Rua Jaime Benévolo, 1059 – José Bonifácio

Centro Pop Benfica
Avenida João Pessoa, 4180 – Damas

Fonte: O Povo Online

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