Oito unidades localizadas em diferentes bairros da periferia da Capital decidiram começar a trabalhar em uma rede de articulação, que foi batizada de “Caldeirão de Leituras e Boas Ações”

Morar em comunidades, periferias e regiões mais afastadas do Centro em grandes cidades causa dificuldades comuns a todos os moradores, como os contratempos para garantir moradia, acesso à saúde e educação de qualidade. Para este último âmbito, Fortaleza conta com o apoio de oito bibliotecas comunitárias trabalhando em uma rede colaborativa, que foi denominada “Caldeirão de Bibliotecas e Ações de Leituras”.

Em diferentes comunidades da Capital cearense, essas instituições resolveram iniciar um processo de trabalho colaborativo – dentro do “Caldeirão” – a partir de dificuldades, obstáculos e vivências em comum para todas.

Entre as bibliotecas participantes estão a Casa Camboa, na Sabiaguaba; a Biblioteca Viva, no Barroso; e a Livro Livre Curió, em bairro homônimo da unidade.

“A proposta das bibliotecas é pensar formas de intervenção que possam passar por todas elas. Pensar pedagogias próprias, atividades em comum, pensar a própria sobrevivência do projeto, e no que a gente pode aprender um com o outro. Tentar pensar em rede”, explica Raphael Rodrigues, participante da Biblioteca Viva.

“O Caldeirão tem surgido do encontro de algumas bibliotecas que perceberam que têm algum trabalho semelhante, e a necessidade de trabalhar coletivamente nas demandas como fazer mutirões para limpeza, trocar livros entre si, responder a alguma coisa que uma tem e a outra não, etc. Então, a gente resolveu se unir para resolver as demandas”, reforça Talles Azigon, idealizador da Livro Livre Curió.

ESTUDO
O acervo no bairro Curió é repleto de volumes infantis e infanto juvenis disponíveis ao público

“Logo após a gente ir se juntando pela proximidade física e afinidade ideológica, principalmente entre as bibliotecas livres, a Casa Camboa, a Biblioteca Viva, nós fomos nos unindo e agregando bibliotecas que não estavam tão próximas, mas que tinham a mesma corrente de pensamento, como a Biblioteca Comunitária da Okupação, no Antônio Bezerra”, destaca Talles.

“A biblioteca é um projeto que não é imediato. Para você conseguir trabalhar a necessidade de um projeto educacional, pedagógico, que vai intervir nas ruas, a dificuldade é trabalhar a consciência da importância das bibliotecas”, comenta Talles sobre a percepção social que dificulta o trabalho das bibliotecas.

Nas três unidades, o perfil principal do público participante é composto por mulheres e crianças, estudantes e moradores do bairro e/ou da região próxima às unidades.

Obstáculos comuns

“A principal dificuldade é fazer as pessoas entenderem que a gente faz um trabalho para a cidade, um trabalho para a sociedade. Um trabalho de levantamento histórico, de busca por cultura, em uma comunidade tradicional, é um trabalho de identidade da cidade. É educativo, transforma a realidade das pessoas para um viver bem, melhor”, comenta Viviane Siade, membro da Casa Camboa.

“A Casa Camboa é uma biblioteca dentro de uma comunidade tradicional pesqueira, de marisqueiras, que se encontra na foz do Rio Cocó. É uma comunidade que resiste aos processos de urbanização e também à especulação imobiliária”, complementa Viviane.

“Falando algo que seja comum entre a gente é que as realidades nas periferias são difíceis, principalmente para quem empreende algo assim, a dificuldade que acho que temos em comum é conseguir juntar recursos para montar a própria biblioteca. Porque a gente parte de uma necessidade que a gente vê, mas você precisa construir esse patrimônio”, complementa o representante da Biblioteca Viva.

Autogestão

Outra similaridade entre esses projetos é viver de doações por parte da comunidade e/ou pessoas que simpatizam e acreditam nos projetos. Por isso, precisar se reinventar financeiramente, e assim impor uma autogestão – especialmente independente de verbas públicas e apoio governamental. “Atualmente, a gente está vivendo de doações. As pessoas perguntam ‘ah, você recebe livros?’. A gente recebe tudo que você quiser dar para a gente. Porque mesmo que não seja uma coisa que a gente vá usar na biblioteca, fazemos um bingo, um bazar, etc.”, revela Viviane.

“A biblioteca do Curió sempre foi sustentada por mim, minha família e através da ajuda de amigos, pessoas que topam e acham a ideia interessante, seja doando material, livro ou dinheiro”, complementa Talles, que está tentando fidelizar doadores mensalmente, como alternativa fixa para a ausência de recursos governamentais.

O cenário de independência financeira se repete na instituição localizada no Barroso. “A biblioteca é o resultado de um trabalho em conjunto. Tanto em termo de recursos financeiros, para pagar água, luz, aluguel do espaço, quanto na questão de compra e doação de livros, mesas, cadeiras e compra de alguns materiais”, complementa Raphael.

BIBLIOTECA
Na Casa Camboa, as crianças também aprendem sobre a comunidade tradicional onde vivem

Fonte: Diário do Nordeste

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