Reações adversas ao tratamento do câncer colorretal podem estar ligadas a fatores genéticos, segundo o estudo

Uma pesquisa desenvolvida pelos laboratórios de Farmacologia da Inflamação do Câncer e de Citogenômica do Câncer, da Universidade Federal do Ceará (UFC), identificou os fatores que aumentam as chances de efeitos colaterais graves durante o tratamento quimioterápico contra o câncer colorretal. Elaborado em parceria com o Instituto do Câncer do Ceará, além de outras universidades e instituições do Brasil, o estudo foi publicado recentemente na revista internacional British Journal of Pharmacology, do Reino Unido.

Os pesquisadores fizeram análise genética em voluntários e testes com camundongos para descobrir as origens dos efeitos colaterais causados pelo irinotecano, principal fármaco utilizado na quimioterapia para esse tipo de câncer. O medicamento provoca diarreia grave – quando ocorrem pelo menos sete episódios de evacuação líquida por dia – em até 25% dos pacientes submetidos ao tratamento.

Segundo o estudo, pessoas com variações moleculares em um receptor celular chamado toll-like 4 são as mais suscetíveis às reações adversas. A pesquisa mostra que, ao mesmo tempo em que a quimioterapia é utilizada para destruir as células tumorais, ataca também células saudáveis responsáveis pela proteção da mucosa intestinal. Isso faz com que as bactérias do próprio intestino se espalhem por outros tecidos do organismo. É aí que entram os receptores toll-like 4, que funcionam como barreiras para as invasões, desde que não haja muitas transmutações.

De acordo com o professor Roberto Lima Júnior, um dos coordenadores do Laboratório de Farmacologia da Inflamação do Câncer, quanto maior as variações moleculares do toll-like 4, mais o paciente fica suscetível aos efeitos colaterais graves.

“Imagine um quartel que em toda esquina fica aquele sentinela prevenindo quadros de invasão – o toll-like 4 funciona da mesma maneira. Ele é capaz de reconhecer a bactéria que está invadindo e deflagrar uma inflamação que erradique a presença daquela bactéria. O problema é quando esse soldado está vendado ou distraído, e não reconhece o invasor. Isso propicia um agravo da colonização dessas bactérias nos tecidos e, portanto, uma inflamação muito mais intensa do que a que ocorreria”, explica o docente, acrescentando que nos casos mais graves o paciente pode ir a óbito por desidratação e desequilíbrio no organismo.

Com o estudo, os pesquisadores concluíram que as reações adversas estão intimamente ligadas a fatores genéticos. Por isso, eles querem incorporar a chamada “Medicina de precisão” no tratamento do câncer colorretal. “A ideia, a partir desse trabalho, é ir para a inovação: fazer o teste de polimorfismo de toll-like 4 em todo paciente com câncer colorretal que vá receber a quimioterapia e verificar se ele vai ter essa predisposição ao desenvolvimento de diarreia severa”, explica a pesquisadora Deysi Wong, professora visitante do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC e principal responsável pelo estudo.

Na prática, a pesquisa sugere que, antes do início da quimioterapia, a equipe médica deve avaliar o conjunto de variações genéticas dos pacientes para, assim, definir qual a melhor estratégia para o tratamento. O procedimento iria indicar qual a medicação mais adequada nos casos particulares. “Para cada câncer, existem os regimes de quimioterapia prediletos, combinações de fármacos que geram os melhores resultados para aqueles tipos de câncer. No caso do câncer colorretal, existem vários protocolos que podem ser utilizados excluindo o irinotecano”, comenta Roberto Lima.

Saiba mais

O câncer colorretal se localiza na parte final do intestino. Ele atinge principalmente pessoas com mais de 50 anos e, se detectado precocemente, tem índice de cura de até 90%. O tratamento inclui quimioterapia, radioterapia e cirurgia.

O estudo

A pesquisa envolveu uma rede de pesquisadores de três cursos de pós-graduação da UFC (Farmacologia, Patologia e Ciências Farmacêuticas); além do Laboratório de Farmacologia da Inflamação do Câncer e o de Citogenômica do Câncer. Também participaram do estudo o Laboratório de Biologia Molecular e Genética e pesquisadores do Hospital Haroldo Juaçaba, do Instituto do Câncer do Ceará; o Serviço de Oncologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, além da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e do Instituto de Biociências da Universidade estadual Paulista (UNESP).

O trabalho contou com financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Com informações da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Fonte: O Povo Online

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